A superfície de todas as coisas é feita de várias camadas. Todas distintas em testemunho de espaço e tempo específicos, como impressões digitais das experiências que nos constroem, umas boas, outras más, outras nem uma coisa nem outra porque não as recordamos com o pormenor de quem aprendeu algo pertinente. Camada sobre camada vamos construindo a pessoa que somos. O interior vai ficando cada vez mais para dentro, longe do que se vê de forma descuidada. O centro esconde-se sobre camadas de muitas coisas diversas, às vezes incoerentes, que reforçam ou condenam a essência pelo que condicionam a nossa forma de existir e ser no mundo dos outros. A superfície não nos define nem o meio nos explica simplesmesmente. Somos a soma do que trouxemos connosco ao nascer e o que nos vamos sobrepondo em camadas. Nem sempre fazemos sentido e muito raramente somos por inteiro as competências acumuladas. Mareamos por entre a expectativa dos outros e a nossa vontade. No fundo, a nossa maior liberdade é o espírito de contradição.