Hoje o dia começou normal, sem nada especial, sem grandes tragédias. Só aquele estado de modo avião, sabe? Acordar mexendo no celular antes de sair da cama. Escovar os dentes meio de olhos fechados. Colocar qualquer roupa limpa, tomar um café meio frio e sair. No caminho observei algumas coisas. Um cara brigando com fone de ouvido enrolado, uma criança chorando porque queria ir pra escola com a fantasia do Homem-Aranha, uma moça esbarrando em todo mundo porque ela tentava mandar áudio e atravessar a rua ao mesmo tempo. E eu ali andando, respirando, funcionando, tem dias em que tudo parece um pouco longe, como se a gente tivesse dentro do próprio corpo, mas de fora ao mesmo tempo. As tarefas se fazem, as conversas acontecem, o sorriso sai, mas nada realmente toca, nem dói, nem anima, só segue. Aí no meio disso tudo escutei uma frase solta que alguém disse no telefone: Cada um carrega o que dá conta né? Segui andando, mas aquilo ficou, porque a verdade é que às vezes a gente não dá conta, só disfarça bem. Sabe qual é a parte mais louca? Que a gente vai se acostumando com isso, com o peso, com o cansaço, com os dias pela metade e ainda assim continua, como se fosse normal, mas não é, só que ninguém quer ser o primeiro a dizer que está cansado, que às vezes só queria uma pausa, um colo, um pouco de silêncio que não machuca. Tem dias que são assim e tudo bem, o importante é lembrar que isso não precisa ser pra sempre, mesmo quando o sempre parece já ter começado.

— .(Escrito dia 28/07/2025, às 09:15).