Tentei de todas as formas encontrar companhia em outros olhos, até me dediquei a outros corpos e dormi dentro de alguns sorrisos. Tinha fé que, se me demorasse no peito de alguém, o que eu tanto procurava iria me achar, preenchendo vazios que me dilaceravam por dentro. Corri mundo e nadei mares na esperança de me encontrar, querendo que alguém me olhasse com olhos molhados de carinho e me dissesse o que faltava. Qual a parte que me faltava? Quis que me pegassem pela mão e me ensinassem a viver, me mostrassem qual caminho seguir, me dissessem que perigos eu iria enfrentar. E foi aí que me perdi de mim. Andei tanto por caminhos outros que me esvaziei de mim mesma e deixei que, das minhas mãos, escapasse algo valioso demais. Quis tanto saber a letra do enredo de outras escolas de samba que não celebrei meu próprio desfile quando passou em minhas avenidas. E não tem nada mais triste do que perder sua alma pelas esquinas de ruas que você não sabe nem o nome. Tive medo de que o que me restasse fosse a solidão, pois não saberia o que sobraria de mim ao me entender só. E é preciso certa coragem para encarar a própria companhia na magnitude de ficar consigo mesma. Eu, que sempre fui de mergulhar em mares desconhecidos, dei uma chance às minhas águas e caí de cabeça na profundidade do meu existir. Confesso que dá mais medo mergulhar no próprio desconhecido do que mergulhar no desconhecido do outro. Descobrir suas nascentes, meandros e leitos é nadar no escuro de si mesma, a fim de iluminar. E é dessa luz que nasce a força da autodescoberta. Me descobri inteira. Em mim não existia parte que faltava, não precisava que me preenchessem, não precisava beber de outra fonte para matar minha sede. Minhas terras eram férteis e só precisavam de uma rega de água que fosse do meu rio. Água doce, que gela as pálpebras e molha o corpo inteiro. Água que vem em queda de cachoeira e deságua potente. Era eu que me faltava. E descobri que era eu que me bastava. E bastei.
— Luana Carvalho