Talvez o que eu tenha é medo. Medo de não conseguir terminar de ler o livro na data certa, de acordar atrasada nas segundas-feiras e perder os números do calendário a cada dia curto em que eu corro demais, sem somar nada. Medo de não consegui me despedir quando for a hora, e principalmente não saber que instante é esse em que tudo poderia fazer sentido dentro de mim. O tempo é o limite de nossa liberdade, e eu espero que você entenda que nunca achei bonito separar todas as coisas com uma linha que a gente segue sem enxergar. A gente é cego por fechar os olhos, aos olhos da alma. Faz sentido? Mesmo que não faça, não tenho certeza se o mundo me parece importante demais quando comparado aos outros planetas vazios ou tão insignificante que não iria fazer diferença se não existisse mais nenhum de nós aqui (Nem mesmo um velho rádio tocando MPB).
Às vezes eu me sinto pequena, e com razão. Só que do meu lado de dentro, eu me sinto enorme, com o coração preenchido por mais coisas do que já sondamos no universo. O que eu sei é que não preciso de mãos para abrir portas para mim, mas necessito delas para não sentir vontade de fechá-las outra vez. Como um pássaro deve guardar no peito o azul do céu que a asa passa sem tocar. E que tenho mais medo de perder quem amo do que de passar o resto dos meus anos almoçando com estranhos que eu nunca mais verei, ou passar uma vida inteira sem poesia e filmes que gosto. Eu preciso de mais tempo pra poder dizer que os relógios passam as horas, mas não a vida.
Na realidade eu só tenho um único pedido: Que eu jamais perca os meus olhares certeiros pra me guiar nesse mundo tão cheio de buracos e aspas abertas, e que o meu coração entenda que mesmo com medo, eu saiba pra onde ir, pois estar só na minha própria companhia é uma dádiva, desde que eu desacelere pra me escutar como uma música preferida.

— .(Escrito dia 16/08/2024, ás 10:07).