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Eu já tive várias conversas com a minha Avó materna, que infelizmente faleceu em 2021, mas uma vítima pela COVID, mas dentre tantos diálogos, ela sempre me contava as coisas que passou desde a infância até a sua fase adulta. Relatava o quão difícil era a vida que levava, numa casa cheia de irmãos onde quase não tinha o que comer, e o pouco que tinha era dividido por todos e que na maioria não tinham todas as refeições do dia, e que ia dormir cedo para assim tentar amenizar e enganar a fome. Eu não me recordo bem a função executada pelos meus Bisavós para manter a casa, aquela família, mas sei que eles eram bem humildes e o trabalho era na zona rural, embaixo do sol quente, com calos nas mãos, plantando ou colhendo café, arroz, laranja, tudo que fosse fértil no plantio da terra.
A minha Avó retratava que viviam em condições precárias, não só pela pouca comida, mas nas vestimentas, sapatos e que ficou poucos anos na escola, começou a trabalhar ainda na infância para ajudar em casa, assim como os demais irmãos. E assim seguiu o caminho dos pais, foi-se para a lida, não importava o clima, debaixo de sol ou chuva, frio ou calor, pois assim como a pele, o rosto e os cabelos se misturavam a terra, a poeira, as folhas, era quase confundida com uma árvore, rotina árdua, cansativa e estressante. Ainda posso sentir o brilho nos olhos dela que me atravessava, porque por mais difícil que tenha sido as suas experiências e vivências, ela se mostrava orgulhosa, pois todas as adversidades que enfrentou, serviram de alicerce na construção da mulher grandiosa que ela se tornou. E no final das nossas conversas, ela enfatizava: Você e os meus demais netos têm sorte da vida que tem hoje, isso aqui é o paraíso, sejam gratos por isso!
Esse texto não é sobre a minha Avó, eu somente há usei como exemplo, um exemplo de uma pessoa real, sem filtros e cortes. Hoje, os tempos são outros, mas ainda existem pessoas que vivem na mesma realidade do que foi a dela. E mesmo as que vivem em outras realidades, ainda assim matam leões e dragões por dia.
No ramo onde trabalho, vejo a dificuldade que as pessoas passam para continuarem exercendo as suas funções, sendo útil, pelo salário no final do mês. Muitas das vezes cumprem a sua jornada de trabalho com dores, com preocupação de ter deixado em casa o filho doente, alguns choram, outros tem uma tristeza no olhar, uns lidam com ansiedade ou depressão, outros sorriem, dão gargalhadas e fazem brincadeiras. Mas todas essas pessoas têm algo em comum, são humanos reais, seja em casa ou no trabalho, com as suas angústias ou alegrias, são pessoas que estão no seu processo individual de SER.
Cada indivíduo possui um universo particular, dentro dos erros e falhas, das construções e desconstruções, dos abismos, das sombras, das suas projeções, o seu modo de levar a vida, os seus costumes, a sua fé, a sua base moral, princípios, valores.
Ser real, nada mais é, que ser alguém que vive a sua realidade na pele, nos ossos, no seu DNA, com as suas várias imperfeições. É ter coragem, mas ainda assim sentir medo e persistir na busca do que se quer, sejam em quaisquer cenários. Para ser de verdade, tem que se permitir sentir: Da exaustão a felicidade genuína, os vários extremos da vida.

.(Escrito dia 05/07/2024, ás 17:26).


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