Meu coração não acelera quando te vejo.
Em alguma assembleia da qual não tenho consciência, as multidões de células e os milhões de micro-organismos e demais seres que gerenciam minha existência, concordaram que não era o caso de bombear o sangue com maior velocidade quando te vi.
Avaliaram e viram que não era motivo para susto, nem para medo, nem para uma alegria repentina, veias e artérias seguiram em seus movimentos de (quase) sempre.
Lembrei que quando vejo, apaixonada, os detalhes das orquÃdeas, há a mesma deliberação, meu coração segue tranquilo, o sangue não chega mais rápido, nem mais devagar.
E ali estou feliz.
Quando vejo o por do sol, as veias e artérias seguem seus caminhos como de costume.
E ali estou feliz.
Percebo que há infinitas situações de alegria, de paz, de paixão em que meu coração não se acelera de forma excepcional e há outras, terrÃveis, em que há este aceleramento.
Noto que, em verdade, excepcional mesmo é que haja coração, que haja veias e artérias, que haja orquÃdeas, por do sol, que você e um tanto mais de gentes existam aqui e agora.
Não é sempre que meu coração se acelera por você, e isso me alegra, mas sabe que até gosto quando ele não se apressa?
Celebro as presenças bem-vindas e seus bons retornos e sei, não é porque que meu coração às vezes bate tranquilo que a festa é menos bonita.
Geni Núñez