Existem dores que somente o silĂȘncio pode nos ajudar a curar. Aceitar o silĂȘncio como parte de nĂłs mesmos nos momentos difĂceis, exaustivos e soterradores Ă© uma sabedoria que demorei anos para descobrir â e outros tantos para realmente aceitar. Fui ingĂȘnuo ao acreditar que se eu nĂŁo me encontrasse com o silĂȘncio, face a face, nĂŁo teria que lidar com as dores que habitavam em mim. PorĂ©m, percebi que
fugir da dor e do silĂȘncio Ă© fugir tambĂ©m da cura.
Por muitas vezes, tentei preencher o vazio com situaçÔes igualmente vazias, pois tinha medo de enfrentar o silĂȘncio. E quem diria que ele poderia ser um amigo tĂŁo fiel? Fugia para encontros de poucas palavras e conversas vazias, para amizades de muitas promessas e poucas realizaçÔes, para prazeres imediatos como se pudessem se eternizar, estava
buscando preencher externamente o que precisava ser
preenchido internamente.
O silĂȘncio dĂłi porque Ă© um espelho das nossas emoçÔes. Ele nos mostra o que nĂŁo queremos avistar, mas precisamos enxergar. Se os medos, as dores e os traumas existem dentro de vocĂȘ, Ă© preciso observĂĄ-los com o cuidado que o silĂȘncio pode despertar. Como iremos lidar com emoçÔes que nĂŁo conseguimos olhar nos olhos nem muito menos expressar de forma honesta e construtiva? Como iremos transformar a dor em beleza, se nem conseguimos avistar onde ela estĂĄ dentro de nĂłs?
O silĂȘncio ensina porque nĂŁo fala; escuta. Ao oferecer nĂŁo a resposta, mas o tempo, o silĂȘncio Ă© um espaço que ofertamos para nĂłs mesmos a fim de ouvir o que precisamos ouvir nĂŁo dos outros, mas de nĂłs mesmos. O silĂȘncio nĂŁo lambe as nossas feridas por nĂłs, mas mostra quais feridas sĂŁo urgentes e merecem a nossa atenção.
Se soubéssemos o quão capazes somos de nos curar,
sem dĂșvida dependerĂamos menos das palavras torpes dos outros e ficarĂamos mais com o vazio fĂ©rtil do silĂȘncio.
Fred Elboni