Dostoievski colocou na boca de um dos irmãos Karamazov uma frase que suscita inúmeras reflexões metafÃsicas e, sobretudo, éticas: "Se Deus não existe, tudo é permitido".
Em meados do século XX, Jean-Paul Sartre parte dessa frase para tomar o ateÃsmo como premissa do seu existencialismo, já que, se houvesse um Criador, o homem não seria livre, tampouco responsável por seus atos. Um trechinho de "O existencialismo é um humanismo":
"[...] Tudo é permitido se Deus não existe e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. [...] Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz."
Voltando um pouco, no século XVIII Immanuel Kant escreveu que Deus não é condição fundamental para qualquer ação moral, embora o conceito de Deus seja uma espécie de regulação das atitudes e pensamentos do homem.
E aÃ? Será que uma entidade metafÃsica é o alicerce do reto comportamento humano? Se assim for, não estamos atestando que os homens, por si, não dão conta de uma convivência pacÃfica a não ser porque temem um castigo divino? Não estamos concordando com Hobbes para quem “o homem é o lobo do próprio homem†e, por isso, precisamos de um Leviatã, um ente autoritário para frear nossos instintos destrutivos?
Matheus Arcaro