A janela aponta para o céu nublado e diz:
– Há sonhos esquecidos pendurados no varal. Vá buscá-los.
A cadeira, sentada diante da prateleira
vê os livros acenarem inquietos.
O que eles querem? Indago.
Na sala, o rádio empoeirado liga subitamente.
As notas preenchem a casa com seus
tons e nuances de movimentos candentes.
As flores dançam, até aquelas que nunca
precisaram beber um gole de água.
O que há com elas?
– Céus! Faz séculos que não escuto esta música –digo enquanto olho para os quadros pregados em memórias na parede.
Que horas são?
Escuto um barulho na cozinha.
Mas o que está acontecendo nesta casa? penso caminhando pelo corredor.
Avisto uma, duas, cinco xÃcaras espalhadas
pela mesa que nunca foram usadas.
Na pia, o café no coador de pano
cede e se desmancha
por dentro ao ver o açúcar.
As cortinas assobiam, se contraem.
A vela tÃmida é abraçada pelo vento e infla em vida novamente.
Escuto a chuva cansada escorregar pelo telhado.
Onde eu coloquei meus óculos?
Só Deus sabe…
Talvez amanhã eu vá buscar aqueles sonhos esquecidos no varal.
Agora não.
Agora não dá.
Preciso encontrar meus óculos primeiro.
Matilda
Obra: "The Window (The Sill)", de Fernand Toussaintm