Deixe-nos desobedecer. Desobedecer às normas que nos matam, forçam casamentos, enquadram tipos de amores e sexualidades como destinos, traçam perfis de feminilidade, impõem normas em nome de deuses e pecados.
Incentivem à desobediência nas meninas, permitindo que gostem de brincar com qualquer coisa, pés descalços, fadas ou corrida, panelinhas ou animais. Deixem as meninas sonharem com o que quiserem ser, mas no tempo presente. Ensine-as a viver o presente e parar de pensar no futuro.
Desobedeçam ao medo que faz crer que se não houver azul e rosa, o mundo dos corpos será uma confusão perigosa. Desobedeça experimentando várias cores e sabores para ver o quanto a vida é encantadora.
Desobedeça à memória que conta histórias tortas das avós e bisavós que eram mulheres rabugentas ou carolas. Imagine-as de outro jeito, busque fragmentos de quem foram, olhe novamente para as fotos que restarem delas e veja nos detalhes as meninas que foram abertas à vida, porém tolhidas pelo patriarcado.
Desobedeça quem falar em nome de deus ou outro poder para dizer que "As mulheres são assim por natureza". Se há natureza com sentidos e determinações em nós, essa deve ser uma natureza regulada por nossa liberdade. A liberdade de permitir que meninas não saiam da escola, que mulheres possam cuidar de seus filhos, possam abortar sem medo de morrer, trabalhar com salários dignos, e alegrar-se com a vida, que as mulheres maduras continuem sendo elas a viver uma vida de sonhos próprios e não apenas uma extensão da vida dos outros.
É preciso desenvolver a pedagogia da desobediência ao patriarcado, ao racismo e a todas as formas de controle e opressão dos corpos. Desobedecer é mais que dizer não: É perturbar a ordem, é desorganizar os poderes, é silenciar o "Assim deve ser".
Tudo pode ser, se assim nos encantar.
Debora Diniz