A gente fala muito dessa história de romantizar a própria vida, como se a gente fosse o protagonista do filme, né?! O que eu acho ótimo, romantizo muito a minha também e recomendo. Mas eu acho que, de vez em quando, mais legal ainda do que ser o "´Protagonista do próprio filme ", é ser figurante no filme dos outros. Por exemplo, alguns meses atrás eu estava dentro de um ônibus voltando pra casa, pensando na morte da bezerra, quando de repente, ele parou num ponto aleatório e ficou parado, assim, por muito mais tempo de costume, acho que ele ficou parado durante uns cinco minutos, assim, ninguém entrou, ninguém saiu. Até que, quando finalmente tocou aquele sinal sonoro do assim, "Cuidado, a porta vai fechar ", sabe?! Entra pela porta correndo, toda esbaforida, uma menina com uma mochila gigantesca nas costas e uma mala maior ainda. Aà essa menina sentou do meu lado, que era onde tinha lugar no ônibus, e ligou pra mãe dela, e falou assim: "Mãe nem acredito, acabei de entrar aqui no ônibus com a porta fechando, se eu não tivesse conseguido entrar e tivesse que esperar o próximo, não ia dar tempo, eu ia perder minha carona e não ia conseguir chegar aà hoje". E eu sentada do lado dela, escutando caladinha, pensando: "Ah, então era você que o universo estava esperando!" "Que a gente ficou aqui sentado dentro desse ônibus, cinco minutos parado sem razão nenhuma!" Era ela a protagonista daquele momento, sabe?! E eu, só a figurante. Objetivamente, numa escala interplanetária, os seres humanos eles não têm absolutamente nenhuma importância. Eu acho que deve ser por isso que faz tão bem pra gente se sentir o centro do cosmos por alguns minutos, pelo menos, de vez em quando. Quando eu insisto que a magia existe, eu não falo nem de feitiços, nem de poções, nem de varinhas. Eu falo disso.