Mudar dói. Nenhuma lagarta torna-se borboleta sem sofrer. Entretanto, passa-se a ideia de que mudar é uma felicidade, de que mudar é simples, de que mudar depende apenas de sua vontade.
Não sei de qual experiência sobrenatural essa lição foi tirada. Só que não corresponde ao mundo real de nossas dificuldades e limitações para o desapego.
Largar um vÃcio, abandonar uma relação dependente e tóxica, distanciar-se de uma amizade oportunista, trocar de emprego ou de rumo profissional, alterar o endereço domiciliar, seguir para uma nova cidade ou paÃs são verdadeiras reabilitações emocionais. Requerem um longo perÃodo de adaptação, de apoio terapêutico, de balança para pesar benefÃcios e perdas.
Mudar dói. Você não fica feliz, dando pulinhos.
Não é um processo que você desejava, pelo qual ansiava, é mais uma necessidade: tem que fazer para sobreviver.
É uma luta contra a sua versão anterior, contra os seus hábitos, contra um padrão de comportamento.
Você vai se sentir estranho, incômodo, desconfortável, um penetra em sua vida.
Nenhuma transformação é alegre, otimista, aderente. Você pena ao mudar, pois se despede de quem foi um dia. E pior: de um modo de ser que apreciava antes.
As mudanças, quando consistentes, são graduais e surgem aos poucos. Exigem renúncias. Exigem deixar algo para trás. Exigem vitórias secretas e silenciosas, em que não é possÃvel sequer comemorar por antecedência, sob o risco de contrariar as promessas e decepcionar os mais próximos.
Não se muda repentinamente, num passe de mágica. Às vezes, você pretende voltar ao seu jeito antigo de resolver as coisas. Porque era mais fácil, já estava acostumado com as consequências.
As recaÃdas costumam ser mais frequentes do que se imagina, já que você se vê obrigado a andar em linha reta, fechar o passado, quando estava moldado a transitar em cÃrculos.
Sair de um modelo de prazer e de autoridade despende doses homéricas de disciplina e autocontrole.
Quando você muda, muda tudo. Muda a sua sensibilidade, os seus horários, os seus contatos. É um recomeço do zero, com a pobreza de um nascimento.
FabrÃcio Carpinejar