A casa da Vovó Elza, o quintal com os pés de jabuticaba, era um labirinto de memórias e desordem, onde as risadas infantis ecoavam nos cantos mais improváveis. Eu, e meus primos irmãos, mergulhava nas lembranças de uma infância que só existiu lá, naquele espaço abençoado e caótico. Nós éramos os detentores daquele reino, onde Barbies dividiam espaço com bonecos de Pokémon, e as aventuras de Dragon Ball se entrelaçavam com os mistérios de Sailor Moon. Aquele espaço que dividÃamos era um microcosmo do universo. Era onde as tréguas eram assinadas após nossas batalhas épicas. TÃnhamos nossos próprios códigos de paz, aprendidos em meio a brigas por quem ficaria com a melhor Barbie ou qual seria o próximo episódio a assistir. Com os nossos olhos cheios de inocência, se transformava cada dia num capÃtulo de um conto de fadas. Brincávamos até nossos pais chamarem para o banho, e tÃnhamos tanto carinho e amor uns pelos outros, como uma espécie de ritual que nos envolvia. A casa, o quintal eram grandes, como a promessa de um futuro que se estendia diante de nós. A sala testemunhava nossos rituais televisivos, onde as vozes de Goku se misturavam à s risadas, e as aventuras dos guerreiros mágicos nos transportavam para mundos além da nossa imaginação. Mas a vida nem sempre era um episódio animado. TÃnhamos nossos desentendimentos. Por vezes, as Barbies se tornavam motivo de discórdia, mas, como em qualquer boa história, nossas pazes eram seladas no mesmo instante em que as guerras começavam. À noite, nossos pais nos guiavam ao sono, e eu percebia que, apesar de nossas pequenas diferenças, havia algo de mágico na forma como a gente tinha tanta confiança entre a gente, a ponto de espantar os monstros que se escondiam nos cantos escuros do quarto. Os anos se passaram, e aquele lugar virou apenas um endereço na nossa memória. O tempo levou-nos para diferentes caminhos, mas o legado de uma infância compartilhada permaneceu. Hoje, quando olho para trás, vejo aquela casa como um santuário de inocência, onde a complexidade da vida adulta ainda não ousava entrar. Entre Barbies e Dragon Balls, entre risadas e brigas, nossa infância se desdobrou naquele ambiente, um espaço que era grande o suficiente para abrigar nossos sonhos e, ao mesmo tempo, pequeno o bastante para cultivar laços que resistiriam ao teste do tempo.
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