Humildade e soberba. Já notou que os idosos nunca se atrasam? Eles são pontuais, cautelosos, prevenidos nos tratos sociais. Não deixam ninguém esperando. Curiosamente, aqueles que têm menos tempo de vida não desejam roubar o tempo dos seus afetos. Entendem o valor do tempo para não desperdiçá-lo. Aprenderam com a saudade dos amigos e familiares falecidos a jamais esnobar a falta ou ceder espaço do coração para a culpa. A morte dos entes queridos lembra-os da urgência da disponibilidade. Não é possÃvel recuperar o que não foi vivido: A volta mecânica do pêndulo não permite voltas humanas. Sabem o que significa um dia a mais. Todo dia é um pão caseiro, da roça, cortado em fatias, e não se joga nenhuma rodela fora. Corta-se apenas o que será consumido. Os únicos que se atrasam são os jovens, aqueles que têm mais futuro pela frente e menos respeito pelo presente dos mais próximos. Não honram os encontros combinados, os minutos a menos de cada pessoa, soterrados pela areia do egoÃsmo da ampulheta. São perdulários da existência alheia. Acreditam que cinco minutos, dez minutos, quinze minutos, meia hora formam uma tolerância aceitável. Presumem que não farão mal nem trarão prejuÃzo. Às vezes, nem pedem desculpa. Nem levam em conta a demora. Não explicam o que aconteceu. Até porque não aconteceu nada.