Se eu pegasse emprestadas as mãos de Drummond, saberia eu transcrever os sentimentos do mundo? Se eu roubasse as mãos de Tarsila, teria eu encontrado um outro Abaporu? Não, não, não e não. Mãos sozinhas são inúteis. Elas precisam da biografia, do complemento de vida do corpo que as acompanha. São necessários o cérebro, os órgãos, os óculos, a desilusão amorosa, os acontecimentos. As mãos — Sós — Não se bastam. Mãos solitárias não criam. Não sabem se escrevem, se ofendem, se afagam. Elas apenas gesticulam. O gesto pode ser qualquer um. Eu queria ter sido as mãos de Beethoven no exato momento em que deixaram escapar as primeiras notas da quinta sinfonia.
Tan-tan-tan-tan!