Passou perto da roda-gigante e olhou para o banco que balançava no topo. Sentiu tontura e não sabe se foi boa ou ruim. Se aproximou ao ponto de ver o esforço do motor, a displicência do maquinista e o cheiro de óleo queimado - Como uma coisa que cheira inferno pode levar alguém para o céu? Já tinha quase 30 anos quando pensou nisso.
Sabia que poderia ver a cidade de lá, que poderia contar que foi corajoso e girou para as nuvens sem ninguém saber. Suas pernas bambas pisaram nas placas de ferro da escada com a força e uma coragem que não tinha. O bilhete preso entre seus dedos foi arrancado da sua mão. Se sentou sozinho em um banco que rangia como o diabo e balançava de pirraça. Então sentiu a barriga gelar e riu.
Quando chegou ao topo, o maquinista parou a roda-gigante como se fosse Deus brincando de Deus. Olhou para baixo e o maquinista acendendo um cigarro. Gritou de medo, depois de raiva, depois de liberdade, depois de loucura e ficou de pé. Não sabia que poderia se sentir vivo mesmo sozinho.
O cigarro do maquinista acabou e desceu a escada feita de placas de nuvens e toda vez que se sente sozinho e as pessoas rangem como demônios, o vento murmura sua solidão e o maquinista acende o tabaco, fica de pé balança e dança no seu sorriso mais alto.
Bruno Caliman