Como te emprestar meus olhos? Como fazer você enxergar o meu mundo? Você não entende quando eu falo sobre epifanias ou quando eu digo que minha alma se estica a todo instante para tentar tocar cada coisa, porque ela anseia por absorver tudo, por sentir tudo. Você não entende quando eu falo sobre a paz ou quando descrevo as sensações que tenho no meio da madrugada quando eu aumento o som e deixo tocar aqui dentro, quando falo das várias implosões que ocorrem em mim e que me levam sim á loucura, mas é uma loucura por querer de mais conhecer o mundo e que essa minha inquietação diante das coisas me pacifica, porque enquanto eu busco, enquanto não me contento com os pensamentos que me são dados prontos, enquanto quero ir fundo nas coisas e descobrir todas as relatividades, enquanto eu saber que não sei de tanta coisa.. Isso me faz querer saber mais. E se essa inquietação for insana de mais para você, como te explicar que me sinto em paz? Eu me sinto em paz perto do que me leva ao caos, porque o caos faz o sangue pulsar, os olhos se tornam infinitos que sugam e que querem mais. O caos faz a alma ser incondicionalmente ilimitada, porque nela pode caber tudo a partir de quando eu sei o quanto ainda tenho para absorver. E eu quero mais. Eu quero absorver sempre mais. Como te fazer entender quando eu falo que aquela música me acalma e como te fazer compreender quando pergunto como vocês vivem sem isso?
Sem essa parte que toca, que entra, que devora. Que consome cada pedacinho da gente. Como eu explico que me sinto incrivelmente bem quando a madrugada vai amanhecendo e eu estou ali, absorvendo? Sendo tocado por um mundo imenso. Como eu explico o toque do mundo em mim? Vivo, intenso, leve e ao mesmo tempo, pesado e bonito. Como eu te explico o que todas essas coisas me causam? O que ver o sol nascendo me faz sentir? Que pensar tudo isso e sentir esse toque é o que me salva. É o que me deixa em paz. Como eu te explico a minha paz, resultante de todo esse cosmo que não te entra? Que não te toca?
(Deve ser por isso que escrever me torna mais humano, porque só aqui posso ser, porque só aqui me posso sentir tocado por tudo isso e ainda assim achar que o delírio pode me salvar de um mundo veloz e sufocante).