O plano era chegar aos vinte e tantos anos com os filhos na escola, um diploma na parede do escritório e uma casa com piscina e jardim. O plano era que aquele primeiro amor durasse para sempre, que o curso da faculdade nos fizesse sentir completos, que a nossa vida já tivesse tomado um rumo até aqui. Acontece que o modelo de felicidade da geração passada não funcionou com a nossa. O futuro que escolheram para gente não se concretizou. O primeiro amor acabou, assim como tantos outros. O diploma está empoeirado na gaveta. O apartamento pequeno não tem jardim, mas a vista da janela até que é legal. Em alguns casos os filhos vieram, mas os pais não estão mais juntos. Parece um cenário triste, mas eu consigo enxergar por outra ótica. Ao meu ver somos uma geração que se recusa a ser infeliz. Que não aceita padrões. Fingir que está tudo bem não é com a gente. Muito menos manter relações de fachada. Se for preciso, terminamos relacionamentos, pedimos demissão, compramos passagens só de ida, recomeçamos tudo do zero. A nossa sede não nos permite viver naquele modelo. A carapuça não serve. Os trinta e poucos anos estão logo ali e as coisas ainda não se acertaram. Mas, quer saber? Talvez tenha sido melhor assim. Nós já vivemos tanto em tão pouco tempo. São tantas histórias pra contar. Optamos pela instabilidade e nos apaixonamos por ela. Somos a geração que pulverizou a mesmice. Quebramos os tabus dos brincos, dos cabelos, das tatuagens e dos relacionamentos. Criamos até mesmo novas profissões. Respeitamos as tradições, mas modernizamos o conceito da maioria delas. É claro que não acertamos em tudo, mas ninguém poderá dizer que não fomos felizes. Viajamos, festamos, bebemos, rimos e choramos. Moramos juntos antes de casar. Amamos por uma noite. Quebramos a cara e demos a volta por cima. Talvez um dia a gente se canse de tudo isso. Talvez lá na frente a gente consiga se enquadrar naquele formato. Pode ser. Mas, por enquanto, nós seguimos assim. Escrevendo o nosso modelo de felicidade. Errando os nossos próprios erros. Sobrevivendo ao caos com um sorriso no rosto. Nosso tempo, nossas verdades. Tirem os rótulos do caminho. Aà vamos nós.
Rafael Magalhães