Vê se me entende: Nascido com o gene do inconformismo, herdeiro da indagação e amante da peculiaridade, vivi uma vida (Nem tão vivida assim) em busca da minha singularização, num mundo tão mesquinho, busquei a individualização do meu ser, num mundo tão caótico, cheio de regras e receitas prontas para se viver, sonhei com a rebelião. Abracei a causa dos perdidos, fingi ser superior, pratiquei a indiferença com rigor, olhava e não via, escutava, mas não entendia e por costume, não sentia. Eu era sim, no meu isolado mundo, muito diferente, um ser tão a parte dos outros seres que era de dar dó. Vivia ali sem saber viver, era eu um ser sem designo, penava pra sentir o meu propósito. Eu era um grande nada e por isso era diferente de todos, porque eu era o único sofrido, o único perdido, o único sedento pela vida, o único que tinha grandes sonhos, porém o pesar se residia na situação em que nada dava certo pra mim e era só comigo que as coisas não funcionavam, apenas a minha vida que não andava, porque eu fui a escolhida para ser um mártir. Eu fui o abençoado para ir contra a sociedade e questionar todos ao meu redor e viver no meu próprio mundinho de superioridade. Tá bom. Todos já entenderam. O singular, eu era. É de dá muita graça essa situação, não é? A vida cobra todo esse tempo que você usa pra ser babaca, sabe? Daí, ela te dá uns tapas, te conta alguns segredos, daí tu vai amadurecendo um pouco. Preciso dizer, que a Luz que cegou meus olhos me fez enxergar muitas cores novas, também estourou meus tímpanos e novas melodias tocam a minha volta, e o meu sentir, ah, esse foi preenchido, ele se harmoniza todos os dias.. Daí, num momento de epífania do cotidiano, eu vi todos a minha volta dizendo: �Por que eu nasci?�, �Ninguém me ama�, “Nasci para ser solitário�, “Não mereço isso, aquilo ou aquela/aquele..�, “Minha vida não passa de fase�, “Cansei�, “Eu não agüento mais viver� e você finalmente realiza, que toda a sua singularidade não passava do mesmo amontoado daquilo que descartamos fisiologicamente que todo o mundo carrega. O mundo é cansado da vida, o mundo se acha peculiar, o mundo é soberbo. O ser humano vem nascendo triste e fraco, carregando fardos imaginários e inventados. Vejo as pessoas como um ser desnutrido emocionalmente, estamos vivendo na era do coração que se encontra apenas em pele e osso, vivendo sem a verdade e a imunidade. Estão todos carentes e indefesos. E percebo que, agora sim, estou me tornando peculiar, nem superior nem inferior, porém estou emergindo com lucidez no olhar e no pisar. Agora sim! Remando contra a maré deste mundo hipócrita vou encontrando meu lugarzinho, minha motivação. Meu caminho começa a se urbanizar, postes de luz estão sendo colocados. Pedras na estrada são impulsionadoras. Não deixei de ser pessimista, mas hoje entendo os otimistas e os de bem com a vida. O ar que entra em meus pulmões é um presente de amor, apenas pelo fato de inspirar e expirar, deveríamos sermos gratos por isto. A vida é curta demais para passarmos por ela reclamando, cheios de amarras e vendas. E eu não precisarei chegar ao fim da minha vida pra entender e, finalmente, viver.. Quem me dera, se todos os corações murchos entendessem.. Pois agora, o meu desejo é por um mundo de iguais e reais.