Nascemos. Poucos anos depois, quando finalmente aprendemos os primeiros passos e palavras, entramos enfim numa sala de aula. Ensinam-nos o alfabeto, tornando-nos cada vez mais aptos na fala e na matemática, para não sermos passados para trás. Inicialmente, investe-se essencialmente na criatividade. Pinturas, poesias, desenhos livres, um pouco de dança, quem sabe. Sempre com um limite: “Desenhe um carro”, eles dizem. No começo, cada carro é feito de um jeito, com cores e formas diferentes. Mas, com o tempo, todos os carros começam a ficar iguais. Por que? Aprende-se finalmente a forma básica das coisas. E se alguém desenha um carro de duas rodas, é logo chamada sua atenção porque a figura não está de acordo com a realidade. Um carro de duas rodas é, na verdade, uma moto. E assim corta-se o primeiro elo com a imaginação. Crescemos. Os cadernos cada vez mais lotam-se de conteúdos. Nos ensinam a história, as datas, os nomes. Mas poucas vezes nos é ensinado a necessidade de fazer nossa história. Nos ensinam regras gramaticais. Porém, dificilmente somos ensinados a dizer palavras doces, nos reconhecer como sujeitos simples e conjugar nosso verbo no presente, esquecendo o passado e o futuro, porque a nossa vida nada mais é do que uma oração. E, portanto, necessita de ação. Somos formados de sistemas, os quais são formados por órgãos, tecidos e células, é preciso saber. E nos esquecemos de que não só de matéria vive um homem. Pode o mitocôndrias fazer a respiração e o DNA formar nosso gene, se não há amor em cada parte de nossas células, o que somos nós? Caráter não é passado por osmose e não se cria bondade em laboratório. A educação existe para nos tornar sábios, em todos os sentidos. Descobrir e aprender um pouco a cada dia, muito mais do que a matéria, sobre nós mesmos e nossas causas materiais, formais, eficientes e finais. Encontrar nos mapas, muito além da escala, nomes dos rios, planaltos e planícies, o lugar onde queremos chegar. Não só conhecer os títulos das maiores e mais famosas obras, nos inspirar e criar também a nossa própria obra. Escrever nossa história, pintar nosso destino, dançar sobre as dificuldades e desenhar os nossos planos. A educação existe para aumentar nosso limite da criatividade, e não cortá-lo ao meio para que nos tornemos adultos limitados e regidos por fórmulas físicas e matemáticas. Somos muito mais do que compostos químicos. Vemos por aí cientistas formados, juízes chamados de doutores, médicos, advogados e engenheiros, com capacidades intelectuais extremas, mas incapazes de ajudar alguém. Incapazes de sorrir. A 2ª Guerra Mundial foi o maior exemplo disso: Pessoas com diplomas intocáveis, inteligências extremas e caráteres tão arruinados quanto Hiroshima e Nagasaki após a bomba nuclear. Uma descoberta incrível, sendo usada para a destruição. Aviões, construídos tendo como base a liberdade dos pássaros e sendo usados como armas terríveis. A cada dia o mundo lota-se de gente graduada, porém sem capacidade alguma de ser aquilo que nascemos para ser: Humanos. E este deve ser o papel da educação: Tornar a humanidade mais humana. Este é único X da questão. O único que, realmente, vale à pena ser procurado.
Rio-Doce