Nós não temos mais o direito de sermos tristes. Melancolia se extinguiu no século passado. O emprego pede um sorriso de orelha à orelha e a necessidade de parecer feliz para o inimigo não deixa a tristeza transparecer jamais. No entanto, os livros de autoajuda estão nas prateleiras, os antidepressivos no armário do banheiro. O sal das lágrimas está acumulado no travesseiro, sem um ombro para escorrer. Quando foi que o ser humano decidiu fingir sorrisos? É preciso estar feliz para ser escolhido como atendente, para fazer parte de um grupo. É essencial um sorriso para sair na rua antes que algum conhecido pense que estamos vivendo a maior tragédia de nossas vidas e que o casamento, os filhos e as contas vão mal. Quando foi que a felicidade virou obrigação? Não se pode chorar em público que já estamos com depressão. Não se pode ser zombado uma vez na escola que virou bullying. O homem transformou tudo em doença e resumiu a cura em remédios. Quando, na verdade, a doença é muito mais que um estado emocional e o remédio é muito mais que pílula: É viver, é sair, conhecer pessoas, encontrar amigos, descobrir novas músicas e ritmos para se dançar. Mas felicidade virou disfarce. O melancólico virou estranho. Somos ensinados a sorrir a todo o momento: Mesmo nas propagandas de absorventes. Nós nos esquecemos que sorrisos bonitos, são sorrisos sinceros. Felicidade só vale à pena se for real. De que adianta um status em uma página virtual, um milhão de fotos bebendo e curtindo como se tudo acabasse amanhã, frases feitas de amor enviados o dia inteiro para o suposto amor da sua vida da última semana, se chega a noite, chega o frio, tudo acaba? Felicidade instantânea, acaba mais rápido que miojo. O mundo virou comercial de refrigerante. Tudo é farsa, tudo é momentâneo. Tudo é exageradamente exaltado. Chorar muito é ser sentimental, chorar pouco é ser frio. Sorrir muito é forçar simpatia, sorrir pouco é ser antipático. Nós perdemos o direito de sermos nós mesmos. E, principalmente, perdemos a capacidade de distinguir o que é ser nós mesmos e o que é seguir o que os outros são. Nós nos perdemos depois que os códigos de barras foram inventados e os produtos foram aos montes aos mercados. Nós nos esquecemos de seguir nossa própria mente após sermos bombardeados de informações desnecessárias a todo momento. Não se pode mais ser simplesmente humano. Ou se é de direita, ou se é de esquerda. Ou é rockeiro ou é funkeiro. Ou é cristão ou é ateu. E no meio disso tudo, felicidade tornou-se só mais um iPhone 5: Obrigatório para quem quer status.
Rio-Doce