Eu vi estrelas no céu, Mamãe, eu comi estrelas e agora elas brilham em mim, eu estou chorando porque quero voar, mas não consigo, o céu, Mamãe, eu quero morar no céu onde ninguém machuca meus braços e as minhas mãos não são esmagadas; Aqui eles apertam a minha voz, aqui eles chutam meus sonhos para a vala, aqui eles querem me ver preso à dor. Eu não agüento, o paraíso é muito distante daqui? Porque se der, eu vou a pé, eu vou com os pés no chão contando os minutos para que eu veja tudo indo embora: Você, meus amigos infelizes, meus professores angustiados, a população morrida, Mamãe, as guerras na Síria me afetam, há poetas perdendo seus dedos pra guerra e a gente só pode pedir para o infinito os guardarem, e a seca dos interiores consomem meu cérebro, a gente pode levar água Mamãe, a gente pode salvá-los, diz que sim, eu não agüento esse mundo, estão pisando nos meus ombros, eu não suporto o peso da roda-gigante, do tic-tac, da solidão que pede meu corpo e eu, sem forças, o dou. Amazing Grace, se eu pudesse colocar essa música para tocar para os africanos que passam fome agora, Mamãe, eu faria; Eles devem precisar de comida, e aqui dizemos que livros saciam. Saciam mesmo? Acho que se jogássemos páginas no deserto eles rasgariam-nas e comeriam-nas até dar disenteria. Eles riem quando digo que quero ser um elefante ou uma girafa, e por quê? A beleza do mundo perdeu-se entre tantos computadores e falas absurdas, os apartamentos contêm mais objetos do que sentimento, eu não agüento isso eu não agüento isso, poesia é motivo da chacota e porque decoro poemas me chamam de louco, Mamãe, eu estou morrendo aqui, estou perdendo meu fôlego, o paraíso está perto? Meus pés doem, cadê a água, e meus amigos, e os livros, e poesia Mamãe a poesia, cadê? Os Estados Unidos ainda mandam no mundo, eu preciso engolir o sistema para estudar, o metrô parece uma prisão à luz do dia, eu estou com preguiça de viver, eu desabafei demais, mas mesmo assim eu falo sozinho, meu melhor amigo são as palavras e elas ainda assim nem dizem tudo, elas só dizem um pouco. Mamãe, hoje me machucaram, falaram que eu sou anti-social, e o que é ser isso, Mamãe? Isso é legal? É que eu só me preservo de todas as facas que me lançam, eu queria flores, e poemas, e canções; Queria abraçar o mundo que sofre sem causas aparentes. Mamãe, o paraíso já chegou? Meus olhos estão se fechando, eu já não vejo nada.. Mamãe, eu não sinto nada.