4ª POSTAGEM
... notou que o transporte estava do mesmo jeito atolado na água congelada da enseada. Ficou um pouco mais tranqüilo, porem ainda apreensivo. Voltou rapidamente para a estação e quando procurou no quarto, Chrystal não estava. Apavorado correu pela estação e encontrou sua Sereia pondo a mesa para o lanche matinal. Sorrindo como sempre, foi um alívio, parecia que ele agora pisava nas nuvens. Beijaram-se e se abraçaram muito. Chrystal estava linda com uma camisa de malha de manga comprida, na cor branca com detalhes azul clarinho e seus lindos cabelos louros caiam pelos ombros, parecia com fios de ouro, como adorno no rosto de uma boneca de porcelana. Sua calça de moletom era azul escuro. Sua barriguinha estava bem grandinha. Suas sereiazinhas já deviam estar bem grandinhas, já querendo nascer. Ele colocava a mão no ventre de Chrystal e sentia o alvoroço que suas menininhas faziam na barriga da mãe. Ele deitava levemente a cabeça na barriga de Chrystal, quando eles estavam deitados e ao falar com as sereinhas, parecem que elas ouviam, pois começavam a mexer na barriga da mãe. Não tocaram no assunto do dia anterior, e parecia até mesmo que nada havia acontecido. Faltando uma semana para começar a chegar os técnicos da estação polar, em uma noite, aconteceu o que ele mais temia. Ele acorda a noite com a estação tremendo e olha em volta e Chrystal não esta na cama com ele. Levantou assustado e correu para fora da estação. O Céu está alaranjado e ouve-se um barulho grave e aterrador. Uma esfera laranja e muito brilhante pairava sobre a enseada que estava liquefeita. A estrutura inox que trouxera Chrystal, estava se elevando. Elevou-se até certa altura. A esfera ganhou muita altitude. A estrutura oval que trouxera a sereia começou a se mover lentamente, em sua direção. Pairou sobre a sua cabeça, ficou imóvel por alguns instantes. Um facho fraco de luz laranja apenas o iluminou. Ficou alguns segundos e foi-se apagando até se extinguir completamente. Lentamente a estrutura oval alongada foi se distanciando dele, mais uma vez parou e voltou a iluminar seu corpo. Aproximou-se alguns metros e parou novamente..... Apagou a luz que o iluminava e em um estrondo se dirigiu a esfera que a aguardava bem mais alta e se incorporou a mesma. A esfera em um estrondo também rasgou o firmamento em seu raio de luz alaranjado e sumiu entre as estrelas. O mundo desabou sobre ele. Acabou o seu sonho dourado. A sua mulher, sua Deusa, sua Sereia partira com suas filhas. Partira e ele sentia que era para nunca mais voltar. Sabia que não era um até breve. Sabia que o seu sonho acabara ali. Voltou desolado para a estação. Entrou, fechou a porta e se sentou na beira do reservatório, onde ele vira sua linda Sereia nadar por diversas vezes. Colocou os pés na água e ficou contemplando o vazio. Não dormiu mais. Tudo o que era seu, tudo o que tinha de bom na sua vida fora para o espaço sideral em uma esfera envolta em uma luz alaranjada. Teve que sair dali. Esvaziou o reservatório e onde encontrou forças foi um mistério, mas deu andamento a sua vida. Não restou nada que o ligasse mais a Chrystal, pois as roupas que ele doara para ela, seus produtos de beleza, e até mesmos seus manuscritos, fora embora junto com a sua sereia. Chrystal levara consigo toda e qualquer lembrança de sua existência com ele. Provavelmente ela não quis deixar rastros ou então quis levar toda a lembrança de seu amor humano. A única coisa que ficara fora a gravura com a imagem da rosa cor de chá que ela deixara na mesa da cozinha da estação, com a marca de seus lábios. Ela lhe deixara um beijo. Ele passou os momentos restantes à chegada dos técnicos a estação em sua maior tristeza. Fez o que era para ser feito, mas sofrendo com uma dor incomparável. Não era seu feitio falar de seus sentimentos para ninguém, mas mesmo que fosse ele não poderia contar a ninguém o que se sucedera com ele na estação no período que em ficou responsável pela estação, pois seria taxado de louco. Os técnicos chegaram e ele foi ficando na estação. Todos estranharam o seu comportamento quieto e pensativo. Passava horas olhando para o céu, às vezes tirava do bolso a gravura da rosa cor de chá, olhava para a mesma, acariciava a marca de lábios do batom, esperando algum sinal, alguma pista de onde estaria a sua linda sereia Chrystal. Ele fora efetivado por seus patrões para permanecer na estação mesmo com o período de luz solar, desempenhando sempre um serviço de boa qualidade. Os seus patrões resolveram o remunerar melhor, mas ele nunca mais se interessou em voltar à civilização. Sua vida era a estação. Lá ele passara os melhores momentos de sua vida e lá ele ficaria esperando nem que fosse por toda a eternidade a sua sereia Chrystal voltar do espaço, se ela um dia voltar, para aí sim, continuarem a sua história de amor. Nem que durasse uma eternidade, ele não arredaria o pé da estação. Ele a esperaria o tempo que fosse necessário... Lá ele viveu feliz por várias semanas... No período de luz a planície em volta da estação, não ficava coberta de neve, então ele se sentava em uma rocha e ficava todas as suas horas vagas olhando para o céu, procurando alguma pista, algum sinal de sua sereia. Era setembro de 2007, quando ao contemplar o firmamento, ao cair de uma tarde, surgiu à primeira estrela do céu. Estrela estranha, um brilho diferente. O brilho era alaranjado. Logo ele esboçou um sorriso. Sabia que era um bom sinal. A estrela foi crescendo, ficou do tamanho da lua, e rapidamente cresceu mais. Logo ficou imensa e todos da estação correram para fora. O brilho era muito intenso. Em cima da rocha que ela costumava ficar. Não dava para ver ele, pois descia um facho de luz muito grosso e brilhante na direção da rocha. E tão rápido como apareceu ela sumiu. E nunca mais ninguém na estação viu sinal qualquer dele. Ele fora abduzido. Não estava mais neste planeta. Uma nave imensa. Uma cápsula horizontal como um caixão com tampa de vidro. Tinha lampejos de lucidez, parecia que via as sereias nadando por cima dele, concluiu que fora da cápsula era liquido. Algumas paravam, ficavam olhando, sumiam, apareciam outras. Até que certa hora notou que a água escoou. Depois de alguns minutos ele observou mulheres ao redor da cápsula. Muitas mulheres. Em torno de dez. Foi olhando uma a uma. Da direita para a esquerda. A última a esquerda foi um choque. Era o rosto mais lindo que ele vira em toda a sua existência. Era a sua Sereia Chrystal. Ele tentou se mexer e não conseguiu mover um músculo sequer. Alguém apertou alguma tecla e a tampa da cápsula se abriu. Lindos rostos sorridentes. Mas ele tinha uma espécie de espasmo muscular. Não conseguia mover um músculo estriado sequer. Removeram a cápsula para outro compartimento da nave. Algumas luzes de cores diversas, uma descarga elétrica e ele conseguiu finalmente se mover. Sua primeira ação foi sentar-se e procurar. Não havia ninguém no compartimento. Ele se levantou meio que cambaleante e caminhou devagar pelo compartimento espelhado. Logo uma porta se abriu e por ela, ela entrou. Sua Sereia Chrystal o resgatara. Vinte e três anos depois ela o resgatara. Ele já era um quarentão, mas Chrystal continuava com a mesma aparência de uma linda mulher de cerca de 30 anos. Ela usava a mesma roupa que ele a vira vestida antes dela partir. Uma camisa de manga comprida branca com detalhes azuis. Calça de moletom azul escuro...
VAI CONTINUAR...