Honrai as mulheres! Elas entrançam e tecem
Rosas sublimes na
vida terrena,
Entrançam do amor o venturoso laço
E, através do
véu casto das Graças (2),
Alimentam, vigilantes, o fogo eterno
De
sentimentos mais belos, com mão sagrada.
Nos limites eternos da
Verdade, o homem
Vagueia sem cessar, na sua rebeldia,
Impelido por
pensamentos inquietos,
Precipita-se no oceano da sua fantasia.
Com
avidez agarra o longe,
Seu coração jamais conhece a
calma,
Incessante, em estrelas distantes,
Busca a imagem do seu
sonho.
Mas, com olhares de encanto e fascínio,
As mulheres
chamam a si o fugitivo,
Trazendo-o a mais avisados caminhos.
Na
mais modesta cabana materna
Foram deixadas, com modos mais
brandos,
As filhas fiéis da Natureza piedosa.
Adverso é o
esforço do homem,
Com força desmesurada,
Sem paragem nem
descanso,
Atravessa o rebelde a sua vida.
Logo destrói tudo o que
alcança;
Jamais termina o seu desejo de luta.
Jamais, como cabeça
da Hidra,(3)
Eternamente cai e se renova.
Mas, felizes,
entre mais calmos rumores,
Irrompem as mulheres, num instante de
flores,
Propiciando zelo e cuidadoso amor,
Mais livres, no seu
concertado agir,
Mais propensas que o homem à sabedoria
E ao
círculo infindável da poesia.
Severo, orgulhoso,
autárcico,
O peito frio do homem não conhece
Efusivo coração que a
outro se ajuste,
Nem o amor, deleite dos deuses,
Das almas
desconhece a permuta,
Às lágrimas não se entrega nunca,
A própria
luta pela vida tempera
Com mais rudeza ainda a sua força.
Mas, como que tocada ao de leve pelo Zéfiro,
Célere, a
harpa eólica estremece,
Tal é a alma sensível da mulher.
Com
angustiada ternura, perante o sofrimento,
O seu seio amoroso vibra, nos
seus olhos
Brilham pérolas de orvalho sublime.
Nos reinos
do poder masculino,
Vence, por direito, a força,
Pela espada se
impõe o cita
E escravo se torna o persa,
Esgrimem-se entre si, em
fúria,
Ambições selvagens, rudes,
E a voz rouca de Éris (4)
domina,
Quando a Cárite (5) se põe em fuga.
Porém, com
modos brandos e persuasivos,
As mulheres conduzem o ceptro dos
costumes,
Acalmam a discórdia que, raivosa, se inflama,
Às forças
hostis que se odeiam
Ensinam a maneira de ser harmoniosa,
E reúnem
o que no eterno se derrama.(6)
FRIEDRICH SCHILLER :
A DIGNIDADE DAS MULHERES