"Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento" - (Pv-3.5).
Muitos desprezam a fé em Deus e vivem guiados por sua própria razão. Estão firmados no entendimento intelectual, como se este fosse totalmente eficaz e confiável para todos os fins. Trata-se de uma forma de antropocentrismo.
"Estribar" significa "firmar-se", "apoiar-se" em algo. Quando se vai montar num cavalo, coloca-se o pé no estribo, que é o ponto de apoio para se tomar o impulso necessário à montaria. O mesmo equipamento ajuda no equilíbrio do cavaleiro durante a cavalgada. Alguns automóveis também possuem uma peça com este nome localizada no limiar da porta. Qual é o nosso "estribo" na vida? Em que nos firmamos para fazer nossas escolhas, tomar nossas decisões e determinar o nosso destino? Se nos firmarmos em algo instável, poderemos ser vítimas de uma queda perigosa ou até fatal. Será que a razão humana é suficiente para garantir nosso êxito em todas as áreas?
OS LIMITES DA RAZÃO
O raciocínio é poderoso, porém limitado. A vida, a morte e o universo não podem ser explicados pelo homem. Por quê? A mente possui uma capacidade impressionante para processar informações. Entretanto, não temos à nossa disposição todos os dados sobre todos os assuntos, principalmente no que tange à espiritualidade.E quando recebemos algum conhecimento nesse sentido,faltam-nos parâmetros de avaliação, pois a nossa lógica está restrita a elementos terrenos.
Até no campo natural, estamos bastante limitados. A ciência, por mais avançada que esteja, não sabe como funciona o cérebro de uma pulga. É verdade que muitas descobertas úteis e invenções extraordinárias têm sido produzidas, mas tudo isso está localizado dentro de um limite intransponível. Os cientistas têm muitas teorias sobre os mais variados assuntos que, muitas vezes, são apregoadas como verdades absolutas. Entretanto, em alguns casos, são apenas especulações. Incluímos aí as teorias sobre a origem da vida, a teoria da evolução e outras que pretendem explicar o comportamento humano. A verdade é que o homem não conhece muito bem a si mesmo. Sabe quase nada sobre seu passado e não tem controle sobre seu futuro imediato. A falta de conhecimento limita a eficácia do raciocínio.
Não estou dizendo que possamos desprezar a razão. Afinal, foi Deus quem no-la deu para que fôssemos superiores às demais criaturas terrenas. A ordem de não se estribar no entendimento não significa que devamos desprezá-lo. Entretanto, é necessário que compreendamos que existe o campo da razão e o campo da fé, embora haja uma considerável interseção entre ambos.
CONCILIAÇÃO PARCIAL
Fé e razão caminham juntas até certo ponto.Daí se falar em"culto racional" (Rm12:1)e"razão da esperança"(1ªPe 3:15),passíveis de explicação e compreensão (Pv 1: 2, 6; 2: 5, 9; 14: 8). A fé não pode ser uma crença cega em qualquer afirmação que se faça a respeito de questões incompreensíveis.Se assim for, voltamos à estaca zero, acreditando em falsas teorias"científicas"e todo tipo de heresia.
A fé autêntica é a crença e a confiança em Deus, de acordo com o que a bíblia ensina.Como podemos confiar assim nesse livro, descartando outras idéias sobre divindade e espiritualidade? Em primeiro lugar, podemos crer porque aquilo que a bíblia diz funciona. Mediante a operação do poder de Deus, de acordo com a prescrição bíblica, os enfermos são curados, os cegos enxergam, os paralíticos andam e vidas são transformadas para a prática da justiça através do amor. Os sinais dependem da fé, mas olhando no sentido inverso, a fé é justificada e fortalecida pelos sinais.
Viver pela fé não significa confiar em ilusões. A ação de Deus é real na vida de todo aquele que crê. Quando vemos os resultados da fé, então a nossa razão toma conhecimento dos mesmos e, embora não possa explicá-los, também não pode negá-los.
Nossa razão nos dá segurança para caminhar, mas a fé nos faz voar. Andando pela razão, teremos firmeza aparente, mas não iremos muito longe nas questões espirituais. Em nossa vida com Deus, podemos até entender o próximo passo, mas não temos como compreender todo o caminho (Pv 20: 24). Por isso, precisamos da fé.
Nossa fé não dependerá da razão, mas não será necessariamente contrária a ela. Vamos além da razão, mas nem sempre estaremos contra a razão. O bom senso não pode ser abandonado, exceto em situações necessárias, quando se faz algo aparentemente absurdo por causa de uma ordem de Deus. Foi o caso de Noé construindo a arca. Em casos extremos como esse, é imprescindível uma ordem direta de Deus, de modo que não haja nenhuma dúvida. Entretanto, algumas pessoas fazem loucuras em nome de Jesus sem que ele lhas tenha mandado. Nesse caso, a razão e a fé foram abandonadas e a presunção tomou o seu lugar. Precisamos, sempre que possível, conciliar a fé e a razão. Se abandonarmos uma das duas, correremos em direção ao fanatismo ou ao racionalismo.
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A RAZÃO PODE SE TORNAR OBSTÁCULO PARA A FÉ
Anísio Renato de Andrade