Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil, mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado que quando se chega ao lado dele, a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser forte, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de carinho. Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar, Não tem um namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche dividido ou drible no trabalho. Não tem namorado, quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa, e quem ama sem alegria. Não tem namorado, quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pacto com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado, que não sabe o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque. Não tem namorado, quem não gosta de dormir agarrado, ou passear de mãos dadas pela beira da praia. Quem não tem namorado, é porque não enlouqueceu o necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que tem sentido, mesmo que a gente vire adolescente e nem tenha medo de parecer ridículo... deliciosamente ridículo....
D.A
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