Humor de "Qual seu Número?" esbarra no moralismo
Garota desesperada para casar teme ter dormido com homens demais.
Anna Faris vive personagem central de comédia romântica.
Em tempos de puritanismo, a comédia "Qual seu Número?" é mais um
prego no caixão da liberdade sexual. Críticas ao filme e à castidade que
ele prega não significam apologia à promiscuidade, mas certa indignação
por personagens que agem e pensam como se vivessem num passado muito
distante.
Estreando em circuito nacional, a comédia, dirigida por Mark Mylod (das
séries de televisão "Estados Unidos de Tara" e "Entourage"), apresenta
Ally (Anna Faris, da série de paródias "Todo Mundo em Pânico"), uma
garota desesperada para se casar. De acordo com um levantamento de uma
revista feminina, as mulheres que já tiveram mais de 20 parceiros
sexuais ao longo da vida não se casarão.
Ela faz uma rápida pesquisa junto ao seu pequeno círculo de amigas e
descobre que é a mais assanhada de todas. Ela já está na marca - 20
homens - e não quer conhecer nenhum novo, pois quando chegar ao 21º não
se casará mais. Esqueça todas as conquistas feministas. Para Hollywood,
só resta à mulher a opção de se casar com um homem loiro e rico e se
realizar como dona-de-casa.
Munida de uma lista de seus 20 ex-parceiros e com a ajuda de Colin, um
vizinho mulherengo (Chris Evans, de "Capitão América"), ela vai procurar
um a um os ex-parceiros para descobrir o óbvio - se ela não se casou
com eles naquela época, não vai ser agora que valerá a pena subir ao
altar. O mais notório, e isso não é preciso nem entrar na sessão para
descobrir, está gritante no pôster do filme: ela e o vizinho foram
feitos um para o outro.
Baseado num "chick-lit" (livros que seguem a mesma linha de comédias
românticas, escritos por mulheres engraçadinhas e sonhadoras), "Qual seu
Número"" anda pelo doloroso caminho dos clichês da comédia romântica
que eram divertidos e sagazes décadas atrás, quando Cary Grant e
Rosalind Russell fizeram "Jejum de amor", ou quando o mesmo Grant esteve
ao lado de Katharine Hepburn, em "Levada da Breca."
O problema em "Qual seu Número?" é que o filme está completamente de
acordo com o moralismo e a condenação da personagem - inclusive limpando
sua barra no final. Sequer se dá ao trabalho de atentar para a
contradição na qual o homem é mais bem visto quanto maior o seu número
de parceiras, e a mulher padece do contrário. Falta ao longa uma visão
feminina e moderna do assunto.