O REI ELVIS -
Em 16 de agosto completou-se 30 anos da morte de Elvis Presley, em meio a um sem número de especiais de TV, lançamentos e relançamentos de CD(s), reportagens de revistas e jornais e reprises de filmes estrelados pelo caipira simpático de Tupelo, Mississipi. Enquanto para a maioria a data é para lembrar da carreira do primeiro "superstar" da história, para uns poucos é feita para criticar sua excessiva mitificação obviamente montada com vistas aos interesses comerciais de Elvis Presley Enterprises Inc., capitaneada pela ex, digamos, "rainha" Priscila e de propriedade da "princesa" Lisa Marie.
Independentemente disso, como fã assumido prefiro apreciar a lembrança do grande cantor que foi Elvis Presley, que não é mito, mas realidade em centenas de gravações e cuja voz só teria comparação com a de outro semi-deus do Olimpo musical, Frank Sinatra. Não se trata de comparar os dois, mas para mim toca muito mais fundo na alma ouvir Elvis porque ele não era um cavalheiro, tinha pouca classe e "savoir faire" ao contrário da sofisticação do "old blue eyes" Sinatra, que nasceu para brilhar nas altas rodas.
Elvis se identificava com o povão de uma forma sadia. Era um caipira simpático, patriota que adorava os pais e os amigos e que não mudou nem quando ficou milionário da noite para o dia. Seus valores se aproximavam dos que nós, pessoas comuns, recebemos de nossos pais e, quando ouvimos uma música qualquer cantada por ele, sentimos a emoção da sua voz e a certeza de que ele efetivamente se identifica com a melodia, porque ela tem haver com aquilo em que ele acreditava, ao contrário do que acontece com Frank Sinatra, cujas interpretações eram irretocáveis e inesquecíveis, mas nem sempre guardavam um prazer intrínseco (Muitas vezes beiravam a obrigação. Os biógrafos dizem que ele, Frank, detestava a canção "Strangers in the Night" que cantava em todos os shows!). Não que isso diminua as saudades de Sinatra, que também são grandes, mas Elvis é Elvis: Melodioso, emocionante e difícil de comparar com quem quer que seja!
Quando eu era adolescente, desprezava a voz do "rei". Do alto da falta de inteligência inerente a quase todos os indivíduos de idade até 20 anos, eu achava que Elvis era coisa antiga e sem graça, uma curiosidade musical, quase igual a um velho fonógrafo de corda. Afinal, como é que alguém que pesava toneladas e se vestia como super-herói de desenho animado poderia cantar algo que se identificasse com o rock e com a juventude? Como alguém tão cafona e que fez filmes tão ruins poderia ser considerado mito? Só que eu pensava assim, porque na minha vida inteira só tinha visto os filminhos dele no Havaí, cercado de garotas bonitas e cantando baladas sem graça com cara de conquistador barato. Um dia, passada a adolescência, meu irmão trouxe para casa uma fita K7 com as melhores músicas do rei, incluindo "Suspicious Minds", "Never Ending" e "Kiss me Quick" e, com uma única audição mudei completamente o meu conceito sobre o rei do rock passando a apreciar aquela voz firme, a afinação e principalmente, o modo com que ele criava uma versão própria para a composição, como se esta ganhasse um co-autor no seu intérprete, a ponto de, na maioria dos sucessos dele, dizermos que é música do Elvis , muito embora seus conhecimentos de teoria musical fossem mínimos.
Elvis é música de altíssima qualidade e em estado puro São poucos os indivíduos que revolucionam a sua arte e Elvis foi um deles, estando, na música, no mesmo rol de Bach, Mozart, Beethoven e, mais contemporâneos, Ella Fitzgerald, Ray Charles, Beatles e Frank Sinatra. Por isso, pouco importa se a imagem dele hoje é meramente comercial, se ele virou um deusinho idolatrado por vender discos e se sua obra rende horrores enriquecendo um batalhão de pessoas. Sua voz eternizada e sua memória representa uma parte daquilo que a humanidade tem de mais bonito: A possibilidade de alguém entrar para a história sem ser rico, nobre ou estudado, apenas usando um dom mágico da obra de Deus que cada um de nós é, no caso, a voz que me deixa emocionado sempre que ouço Can't Help Falling in Love.
FROM ELVIS IN MEMPHIS
Porém, chegou o dia em que o "rei" cansou daquela porcaria toda e resolveu voltar pros braços do seu povo. Daí, minha gente, veio o "Especial da Volta", para o qual ele, nosso ídolo, ensaiou à exaustão, emagreceu e apareceu na TV, ao vivo, em cores, um quase 40tão deslumbrante pras mocinhas e exemplar para nós marmanjos. E que voz!!! E que repertório!!! Que presença e que amor pelo seu público, numa ocasião em que a NBC teve 95% (isso mesmo, 95%) de audiência "coast to coast" nos EUA!
E gerou esse LP , uma pérola, maravilhoso, certamente o melhor trabalho do ELvis, e o meu preferido, com músicas ultrapassando o espetacular. Quem puder, ouça, principalmente "Gentle on my Mind", "Only the Strong Survive" e "Any Day Now", sem contar "In the Ghetto" onde o "rei" faz um "revival" em homenagem aos velhos tempos de iniciante.
Simplesmente maravilhoso, Elvis em sua essência: boa música! Recomendo!