Invento-me todas as manhãs, para não me esquecer de existir. Procuro-me para não me perder de mim, para me evadir de um sonho ainda por inventar.
Fujo de mim, porque me trazes em ti. Fujo de ti, para me esquecer de nós. Para apagar de minha pele o calor das tuas mãos, o rasto dos teus lábios e um travo amargo de quem se despede, despida de tudo.
E a despedida que mais dói, é aquela que, efetivamente, nunca acontece. Aquela que em te vais e deixas sempre a porta entreaberta. Aquela em que sempre voltamos ao ponto de partida. Em que já moribundos e sofridos, calamos as dores para deixar que o amor se faça escutar. Em que nos amamos com a ânsia de quem já tudo perdeu, com a pressa do tempo que corre veloz, para depois nos irmos de novo, amantes clandestinos, sem rosto, sem nome e sem voz…
Ah! Tivesse eu o poder de comandar o coração. De lhe impor regras e conceitos. De lhe ordenar que obedecesse ao esquecimento.
Tivesse eu o poder de preencher o vazio que se abate sobre mim, quando não estás.
Pudesse eu inventar um grito que calasse este silêncio. Pudesse eu apagar da memória o som de tua voz…
© Madalena Leite
(Imagem/Museu do Ipiranga Mirante