Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que
fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é nós mesmos- que
amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um
prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente
do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia
nossa.(...)
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e
divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são
matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos,
nos desconhecemos. Dizem os dois "amo-te" ou pensam-no e sentem-no por
troca, e cada uma quer dizer uma idéia diferente, uma vida diferente,
até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de
impressões que constiui a atividade da alma. (...)