O que amamos está sempre longe de nós
O que amamos está sempre longe de nós:
E longe mesmo do que amamos—que não sabe
De onde vem, aonde vai nosso impulso de amor.
O que amamos está como a flor na semente,
Entendido com medo e inquietude, talvez.
Só para em nossa morte estar durando sempre.
Como as ervas do chão, como as ondas do mar,
Os acasos se vão cumprindo e vão cessando.
Mas, sem acaso, o amor límpido e exato jaz.
Não necessita nada o que em ti tudo ordena:
Cuja tristeza unicamente pode ser
E equívoco do tempo, os jogos da cegueira
Com setas negras na escuridão.
© Cecília Meireles
in Solombra
>