»§«=|| destino ||=»§«
♥ Poesia Matemática ♥
Às folhas tantas Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se Um dia Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma Figura Ímpar;
-Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo otogonal, seios esferóides.
Fez da sua Uma vida Paralela a dela
Até que se encontraram No Infinito.
"Quem és tu?"indagou ele Com ânsia radical.
"Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram -
-O que, em aritmética, corresponde A almas irmãs
- Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando Ao sabor do momento E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar Constituir um lar.
Mais que um lar, Uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade Integral E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos E foram felizes
Até aquele dia Em que tudo, afinal, Vira monotonia.
Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela, Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu Que
com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração Mais ordinária.
Mas foi então que o Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era expúrio passou a ser Moralidade
Como, aliás, em qualquer Sociedade.
® Millôr Fernandes
Música: moi_damour
Músico: richard_clayderman