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Amor Maduro
O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso.
Não é menor em extensão. É mais definido,
colorido e poetizado.

Não carece de demonstrações:
presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas: amplia-se
com as ausências significantes.

O amor maduro somente aceita viver os problemas
da felicidade. Problemas da felicidade são
formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao
amor maduro.
O amor maduro cresce na verdade e se esconde a
cada auto-ilusão. Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e a sua incompletude,
por isso é pleno em cada ninharia por ele
transformada em paraíso.

É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta
de ser sublime e criança. O amor maduro não disputa,
não cobra, pouco pergunta, menos quer saber.
Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e
importante porque redentor de todos os equívocos
do passado.

O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar,
é o sentimento que se manteve mais forte depois
de todas as ameaças, guerras ou inundações
existenciais com epidemias de ciúme.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro
e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado
para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas
para sentimentos antigos, jardins abandonados
cheios de sementes.
Ele não pede, tem. Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.

Não exige, dá. Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz. Só teme o que cansa,
machuca ou desgasta.

(Desconheço a autoria)



*
*
*
Falar para fazer silêncio


Tudo que calamos fala conosco.

Tudo que não conseguimos falar vira eco e não há paz enquanto silêncios retumbantes latejam dentro de nós.

A paz é impronunciável, inaudível, intraduzível. Sente-se paz. Só isso. Quando palavras são necessárias, a paz vira tratado, acordo, confissão.

A palavra não dita só é ouro se não for palavra, mas silêncio e quietude. O resto, todas as palavras, precisam ser pronunciadas
para que dentro de nós não cresçam ervas daninhas, tumores, temores, fossos. A palavra abafada sufoca. A palavra amordaçada arranha e fere. A dor silenciada é devastadora como um terremoto
a rasgar fendas na alma e fazer desabar certezas.

De todos os males que podemos nos causar, um dos maiores é engolir palavras. Por isso, expresse-se! Fale, explicite, faça-se ouvir. Traduza-se. Grite se for preciso, xingue, pragueje, blasfeme. Não tenha medo das palavras que lhe pertencem. Ria alto, espante-se, gema, urre. Clame por justiça, reclame carinho, conte seus sonhos. Elabore memórias, conte histórias, verbalize ressentimentos. Pronuncie-se contra, a favor, muito pelo contrário. Vote. Não engula sapos, desaforos, não aborte palavras que vêm das entranhas. Solte-as no mundo, na cara da vida, devolva-as. Manifeste desejos, desagrados, desagrave-se. Cante, chore alto, lamente-se, fale com Deus. Não tenha pudores nem meias palavras: sinta inteiro, lave a alma, letra por letra, fale-se.

Faça barulho por que até a respiração emite um som, o universo faz Om, o sangue gorgoleja e todo o nosso organismo pulsa, preme, despeja, deságua em sinfonias celulares, líquidas, alveolares.
Fale de amor, afeto, carinho. Amor explicitado é linguagem universal. Transforme palavras em gestos, abraços, presentes, romance. Fale de idéias e ideais. Transforme palavras em ações, soluções, revoluções. Fale de valores e sabedoria. Transforme palavras em exemplo e atitude.

Fale consigo. Dê nome ao que você sente e se possível, faça diante da audiência certa. Há sempre alguém para quem nossas palavras mais fortes e eloqüentes se destinam. As palavras mais importantes das nossas vidas se completam em outra pessoa; as mais decisivas só se realizam quando chegam a um destino. Nossos pensamentos mais profundos são mais fecundos se pronunciados e toda poesia do mundo seria vã se não fosse concretizada nem nunca lida.

Que você possa falar “Eu te amo”, “Eu entendo,” “Eu perdôo”, “Eu não aceito”, “Eu odeio”, “Eu não quero”, “Dane-se”, “Eu espero”, “Eu consegui”, “Sai daqui”, “Eu errei”, “Eu vou recomeçar”, “Me perdoe”, “Fica comigo” e tantas outras palavras, com propriedade e clareza, para que elas sejam libertadoras. Para que elas operem milagres, encontros, desabafos, trégua mas, sobretudo, silêncio, aquele que vale ouro, aquele que vem depois que as palavras descansam bem-ditas, saciadas, em paz.

HILDA LUCAS






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