Mesmo que te guardes,
teu silêncio te revela.
E, quando tua boca cala
e tuas mãos se crispam,
ainda assim,
eu te sei faminto.
E sei do meu querer,
do lento veneno
que goteja de mim,
quando teu olhar,
em eclipse,
rápido e sorrateiro
como um susto,
denuncia a tua fome impudente,
e arrepia os meus sentidos.
Fugaz, o teu delito
não me escapa.
E, mesmo inconfessa e impossível,
a nossa fome nos delata.
Cúmplices, tu e eu...
seguimos assim,
distraídos e cautelosos,
como se não soubéssemos da pressa,
como se não sentíssemos medo.
Como se não houvesse o risco de,
num piscar de olhos,
um impensado suspiro
nos desmascare
e deixe exposto nosso
impudico delírio...
(D.A.)
Seu corpo nu
só deve pertencer
a quem se apaixonar
por sua alma nua.
(Charlie Chaplin)