sua boneca de papelão, tipo papel-marché,
destas que não se fabricam mais.
Cabelos... ela não tinha não.
Sua Mãe fez para ela um vestido de organdi
azul-celeste todo enfeitado com rendinhas brancas.
De todas as bonecas, "Carol" - como ela a chamava -
era a sua preferida e a mais querida.
Numa tarde primaveril, eis que o céu tão azul,
de repente escurece com pesadas nuvens que
se formaram num instante, assustando e
fazendo voar os alegres passarinhos.
Verluci que estava brincando com Carol no quintal,
debaixo de uma laranjeira florida, é chamada pelo
pai para entrar rapidamente. Pingos fortes de chuva
caem sobre ela, que ao correr com seus brinquedos,
deixa Carol sentadinha numa cadeirinha de balanço.
A chuva desaba como uma tempestade que não foi
anunciada. A mãe logo trata de enxugar Verluci
que havia se molhado um pouco. Liga a TV e diz
pra filha assistir "A Turma dos Sete" na TV TUPI.
De repente ela sente falta de algo... Carol...
minha Carol... e corre para ir buscá-la. Mas,
seu pai havia trancado a porta por causa do
vento e da chuva. O vento uivava entrando pelas
frestas das janelas. Verluci sobe numa cadeira e
espia lá fora, através do alto vitrô da cozinha.
E ela vê uma cena que permaneceu para sempre
em sua memória... que ela vê até hoje, e seu
coração chora... as lágrimas salgadas deslizam
pelo seu rosto, como a chuva desliza pela vidraça.
Carol... com seu rostinho pintado no papelão
duro... as cores... a tinta se esparramando...
escorrendo pela forte chuva que seu rostinho
castigava... manchando o lindo vestido de organdi
azul-celeste... e a carinha tão querida de Carol...
vai desfazendo-se... desmanchando-se... como muito
de nossos sonhos se desfazem... Carol... Carol...
e Verluci chora...
O Pai para consolá-la, ao ver sua tristeza,
semanas depois, vai à única loja de artigos
infantis e compra para ela uma maravilhosa,
imensa boneca da Estrela que se chamava
"Amiguinha" com espetacular vestido e um
sapatinho preto de verniz que quase servia
para Verluci, tão grande era a boneca.
Ela agradeceu mas demorou um longo tempo
para começar a gostar desta sua nova amiguinha.
Deu-lhe o nome de "Ana Carolina".
Inconscientemente talvez em homenagem
à sua tão amada Carol.
E hoje, quando chove, ela olha pela janela, nas
laranjeiras onde cantam alegres os sabiás... ela
a vê nitídamente... a tinta a escorrer pelo rostinho
tão amado... manchando seu lindo vestido de organdi
azul-celeste, todo enfeitado com rendinhas brancas...
©Verluci Almeida 12-10-2006
Caso queira copiar, citar a autoria.
Copyright © 2004-2008 -Verluci
![](http://i226.photobucket.com/albums/dd109/NinaCristina_2007/kids.gif)