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A primavera chegará,
mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário,
nem possua jardim para recebê-la.
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Enquanto há primavera, esta primavera natural,
prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos
novos, que dão beijinhos para o ar azul.
Escutemos estas vozes que andam nas árvores,
caminhemos por estas estradas que ainda conservam
seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo
tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia
se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha
que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda
estão sendo enrolados em redor do perfume.
E flores agrestes acordam com suas roupas de chita
multicor. Tudo isto para brilhar um instante, apenas,
para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura
semente, ao que vem, na rotação da eternidade.
Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles
Obra em Prosa vl 1" - Editora Nova Fronteira
- Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.
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CAPAS DAS ANTOLOGIAS DAS QUAIS PARTICIPO