SEREI POETA?
Luan Jessan
Ouvi alguém perguntar, dia desses.
É possível que vez ou outra
você também se questione,
se desencante a esperar pela resposta que tarda,
e talvez pense:
Indispensável, será, ser beletrista?
Só dizer palavras que exalem perfume e façam sonhar?
Provocar lágrimas silenciosas?
Salpicar o chão, de estrelas? (1)
Estar à toa na vida,
pra ver a banda passar,
será necessário? (2)
Ou ter uma pedra no meio do caminho? (3)
E agora, José? (3)
Navegar ou viver, o que será preciso? (4)
Passar uma tarde em Itapoã? (5)
Morar em Jaçanã (6)
Ter uma Marília e chamar-se Dirceu? (7)
Compor uma Esparsa ao Desconcerto do Mundo?... (8)
Parece complicado? Bem...
Nem tanto, porque, se porventura você...
cumprimenta desconhecidos com naturalidade;
Emociona-se ao ver um pequenino dar os primeiros passos;
Enternece-se ao observar a insegurança do idoso;
Consegue esquecer que é adulto quando está com crianças;
Sente aflição ao ver um animal faminto ou ferido;
Não fica indiferente à dor alheia;
Ao caminhar pela Natureza,
evita pisar nas raízes das árvores;
Mesmo com a correria do dia-a-dia,
ouve a canção das folhas agitadas pelo vento;
Arrepende-se rapidamente e se desculpa
pelas atitudes negativas que toma;
Estando a conversar, fica sem graça,
perde a naturalidade,
ao ouvir termos chulos, grosseiros;
Escolhe palavras que não firam;
Tem sempre uma palavra estimulante para ofertar;
Diz com freqüência, com licença,
por favor, muito obrigado;
Aprendeu a abençoar a tudo e a todos,
inclusive os seus problemas;
Ora em benefício de outros seres;
Consegue fazer algo que lhe não agrada
para contentar outrem;
Compra algo de que não precisa para ajudar alguém;
Mesmo sentindo-se muito feliz,
põe o som numa altura que não incomode os outros;
Alegra-se com a alegria alheia;
Lamenta a ação infeliz, compadecendo-se do ofensor;
Ao encontrar pombos bem no seu caminho,
ou qualquer outro animal,
desvia para não incomodá-los;
Reconhece a razão alheia sem achar que está sempre certo;
Consegue ser grato a alguém que aponte um erro seu;
Reconhece que também gosta do hino do time adversário;
Sabe torcer com elegância;
Ri a beça com os desenhos antigos de Tom e Jerry;
Percebe logo quando surge uma nova flor no jardim;
Sorri com facilidade;
Vê romantismo na chuva;
Insiste em procurar estrelas na capital,
no céu de São Paulo...
Então, criatura... festeje!!!
Porque se você observa essa relaçãozinha básica
(sabendo que há muitas outras coisas, naturalmente),
você é poeta, SIM!
(Mais do que isso – VOCÊ – é a própria poesia...)
(1) Orestes Barbosa
(2) Chico Buarque de Holanda
(3) Carlos Drummond de Andrade
(4) Fernando Pessoa
(5) Vinícius de Morais/Toquinho
(6) Adoniran Barbosa
(7) Tomaz Antonio Gonzaga
(8) Luiz Vaz de Camões.