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- QUEM QUER LULA -
Coluna publicada em "VEJA" de 24 de janeiro de 2018,
edição nº 2566 - Por J.R. Guzzo
Está quase lá: mais uns poucos dias e vamos saber se a sentença que condenou
o ex-presidente Lula a nove anos e tanto de cadeia por corrupção será confirmada,
ou não, no Tribunal Superior para o qual ele apelou. Com isso vai se encerrar, enfim,
o segundo ato desta comédia infeliz. Ela vai continuar, é claro, mas terá tudo para ir
ficando cada vez mais rala, daqui para a frente, se a condenação for confirmada por
unanimidade — e se, por conta disso, Lula não for candidato à Presidência da República
em 2018. O público vai começar a sair da sala, pouca gente estará realmente prestando
atenção no que os personagens falam no palco e, de mais a mais, o espetáculo que de
fato interessa — quem será o próximo Presidente — estará sendo apresentado em
outro lugar. Se o ex-presidente sair do jogo, nos termos do que manda a Lei, o Brasil
terá uma excelente oportunidade para tornar-se um país melhor do que é. Ao mesmo
tempo, será dado mais um passo no desmanche da maior obra de empulhação já
montada até hoje na história política deste país.
Essa farsa, em exibição há anos, se deve à seguinte realidade: nada do que existe
em relação a Lula é genuíno, verdadeiro ou sincero. Lula se apresenta como um
operário, mas já passou dos 70 anos de idade e não trabalha desde os 29.
Representa o papel de maior líder de massas da História do Brasil, mas não pode
sair à rua há anos, com medo de ser escorraçado a vaias, ou coisa pior. O “irmão”
do brasileiro pobre é um milionário — e, como diz a líder de um partido rival de
extrema esquerda, "ninguém pode ser metalúrgico e milionário ao mesmo tempo".
Vive denunciando as diferenças entre ricos e pobres, mas nenhum presidente
brasileiro enriqueceu tanto os ricos quanto Lula — e justo aqueles que tiram
suas fortunas diretamente do Tesouro Nacional. Os pobres ficaram com o
"Bolsa Família". A Odebrecht ficou com as Refinarias, os “Complexos”
petroquímicos, os Estádios da Copa do Mundo, os portos em Cuba.
Chegaram, neste fim de feira, a chamá-lo de “Nelson Mandela” — imaginem só!!
Nelson Mandela, que ficou 27 anos preso por ser negro e pedir a igualdade racial
em seu país , e não por ter sido condenado como ladrão num processo absolutamente
legal. Mandela não teve advogados milionários, nem recursos no TRF4, nem a paciência
do juiz Sergio Moro, nem liberdade para ameaçar, pressionar e insultar a Justiça. Não
teve acenos de prisão domiciliar e “regime semiaberto”. Mais do que tudo, talvez, Lula
foi santificado como o homem mais importante do Brasil nos últimos 500 anos. Criou-se
a fábula de que tudo depende dele, a começar pelo futuro de cada brasileiro. Nada se pode
fazer sem Lula. Lula vale mais que todos e que tudo. O Brasil não pode existir sem Lula.
Tudo isso é uma completa falsificação — e é por isso, justamente, que as atuais
desgraças de Lula na Justiça não estão provocando nenhum terremoto na vida nacional,
e sim um final de história barateado pela decadência, rancor e mesquinharia. A verdade,
em português claro, é que o Brasil não precisa de Lula. Se cair fora da vida política mais
próxima, não fará falta nenhuma.
Não há no Brasil de hoje um único problema concreto que Lula possa ajudar a resolver
— você seria capaz de citar algum? É verdade que sábios de primeiríssima linha, cientistas
políticos, “formadores de opinião” etc. têm se mostrado aflitos com a possível “ausência”
de Lula da lista de candidatos — nas suas angústias, acham que isso seria desagradável
para a imagem de pureza que caracteriza nossas eleições através do mundo. Mas é uma
alucinação: se Lula ficar fora, será porque a Lei assim determinou, e ponto-final ! Isso
apenas mostra a imensa dificuldade que a melhor elite brasileira, até ela, tem para aceitar
a ideia de que a sociedade deste país só valerá alguma coisa quando viver sob o império da Lei.
Quem precisa de Lula não é a lisura das eleições nem o povo brasileiro. São as
Empreiteiras de obras públicas. São os que esperam por novas Refinarias Abreu
e Lima. São os vendedores de sondas ou plataformas para a Petrobras. São os
operadores de fundos de pensão das estatais. São os marqueteiros milionários.
São os Renan Calheiros, e os Jarbas Barbalhos, e os Sarneys.
É a diretorzada velha da Petrobras — gente que não vacilou em meter a mão
no bolso e devolver 80 milhões de dólares em dinheiro roubado da empresa.
ão os Odebrechts, os Joesleys, os Eikes.
Quem precisa mais de Lula — o homem que no dia seguinte ao do julgamento
estará às 4 da manhã na fila do ônibus? Ou essa gente aí?
Publicado em VEJA, de 24 de janeiro de 2018, edição nº 2566
🐎🐎 #LULAnaCADEIA 🐎🐎
🐎🐎 #LULAnaCADEIAem2018 🐎🐎