Minhas mãos
Cáritas Souzza
Ao olhar minhas mãos, uma dentro da outra, percebo que a mão direita com que escrevo, aperta a calada que ampara o teclado.
A direita dirige a vontade, a esquerda diz a direção das vontades do coração.
A direita bate o tambor do silêncio, a esquerda cuida das alegrias surgidas no transcorrer da existência.
A direita fecha a porta, a esquerda abre as janelas.
A direita é aroma de perfume doce, a esquerda é aroma de perfume selvagem.
A direita é a primeira à acordar, a esquerda, a primeira a dormir.
A direita abandona a solidão, a esquerda faz companhia as lágrimas
da alma.
A direita é vista em excesso cometidos, a esquerda lava as costas da memória e, dar lustre ao piso das ações não cometidas.
A mão direita mata o egoísmo, a esquerda confessa o crime da individualidade.
A direita promete, a esquerda faz cumprir as promessas não realizadas.
A direita canta fados do fardo vivido pela esquerda.
A mão direita passa a limpo os detalhes da agenda da vida que foi anotada e sinalizada na esquerda.
A direita encanta o momento presente, a esquerda sofre na despedida a força da separação.
A direita aparta mágoas, a esquerda convida ao perdão.
A direita ofende, a esquerda elogia.
A direita sofre de insônia, a esquerda acalma o pesadelo.
A direita corta os pulsos da esquerda, mas só a direita pode fechar a gaiola dos sonhos que são sonhados, na objetividade para vê-los realizados
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