Minha mãe, eu e o picador
Ari Pinheiro
Eu era criança
E via minha mãe lançar mão do machado
E ir-se rachar lenha...
Ficava imaginando o que pensava
O que falava com Deus
Enquanto brandia o machado
Cada vez mais forte contra os troncos
De cerne cujo destino era o fogão...
Hoje eu sei que ela não picava lenha
Mas a cada machadada
Ia picando suas mágoas
Suas desventuras
Suas lutas...
Parecia perguntar ao Senhor
Porque tão pesado fardo
Para um corpo tão frágil...
Se algumas queixas sobravam
Vinham com as achas
E viravam fumaça no fogão...
Um dia também fui ao picador de lenha
E aprendi a deixar lá
Minhas raivas de adolescente
Minhas angústias
Minhas incertezas...
Meu primeiro psicólogo
Foi o picador...
Um dia dei a última machadada
E me fiz de viagem para o mundo...
Troquei o picador pelos comprimidos
De Diazepan, Hidantal e outras drogas
Que não tinham o mesmo efeito
Do velho picador de lenha
Da minha infância...
Foi assim até o dia em que Jesus me resgatou
E trocou todos os meus fardos
E comprimidos pela doçura de sua mensagem...
Hoje eu sei que o velho picador me preparou
A mente e o corpo
Para enfrentar as lutas de agora...
Só hoje posso entender como minha mãe venceu sem psicólogos ou remédios...
O velho picador de lenha
Continua ditando mensagens
Pelos recantos da memória
Enquanto Jesus Cristo sara nossas feridas
Com o seu sangue remidor...
Hoje, nem remédios nem picador,
Só a palavra de Deus
E Seu infinito amor
Substituem o som do velho picador!
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