Alguém aí conhece quem, em estado de sobriedade e sem estar carregando na ironia, afirme em alto, sincero e bom som que gosta de trocar pneu furado? Pode ser o mais animado e energético dos fanáticos por carros, daqueles que têm como passatempo predileto desmontar e montar partes de seus carangos; que trocam (quase) qualquer programa para ajudarem um amigo a resolver "um probleminha" de mecânica. Na hora de colocar a mão na borracha, a ajuda pode até ser rápida, espontânea e competente – mas dificilmente será acompanhada daquele sorrisinho de satisfação com que uma pane elétrica, um problema de injeção ou algo do gênero costumam decorar o rosto dessas simpáticas figuras.E a antipatia com o pneu vazio não parece estar relacionada apenas com a sujeira que envolve o seu manuseio. Afinal, a "memória" das ruas e estradas do mundo que essas galochas que nossos carros trazem não é assim tão mais emporcalhadora que outras tantas partes e peças. Cá entre nós, só de abrir o capô de um carro que tenha mais de três meses de uso e pertença a um motorista "normal", na imensa maioria dos casos, todos sujamos ao menos as pontas dos dedos. É como se o valoroso pneumático e seus problemas de saúde integrassem uma espécie de grupo de segunda classe do universo automotivo, junto com o escapamento solto e a ferrugem na lataria (eca!).
Para piorar as coisas, enquanto um carro com qualquer probleminha "mais interessante" pode ser empurrado para um local mais cômodo ou seguro para, então, ser reparado; as máquinas vitimas de sapato murcho ficam ainda mais pesadas e, sob o risco de estragar de vez o pneu vazio, devem ser movidas o mínimo possível. E você já reparou, leitor, como pneu só fura em lugar estranho – para não dizer, horrível?
Certo, você adivinhou. O autor de sua Rebimboca passou recentemente por uma dessas experiências. Para complicar, a rua era daquelas típicas da Zona Sul, estreita, com os meios-fios totalmente preenchidos por outros carros estacionados, fradinhos e entradas de garagem estreitas e guardadas por porteiros mal-humorados. A salvação foi a calçada em frente a um restaurante, que em horário de pouco movimento, ainda não havia colocado suas mesas e cadeiras sobre o cimento.
O resto da história, todos conhecem: macaco levemente engraxado, roda suja, pneu sujo, chão sujo, mãos sujas, suor – e a testa suja pela mão suja que tentou conter o suor. Só não foi pior porque no porta-malas há sempre um estepe calibrado, chave de roda e um pedaço de cano de alumínio que nela se encaixa para diminuir o esforço. Menos de 10 minutos depois já estávamos em marcha;
Isso e mais um atraso para um compromisso (foi preciso parar e trocar de roupa) e o tema para estas letras que aqui estão.