"[ ... ]Havia chegado a pouco mais do que uma hora. Puseram-na numa sala para observação e a deixaram ali. Não sentia dores, o que não era bom.... Na verdade parecia nada sentir além do silêncio. À sua frente uma minúscula janela de vidro por onde ela, placidamente, observava o mundo.[ ... ]
A voz dele era forte e doce ao mesmo tempo.[ ... ]As horas não tinham mais ponteiros.[ ...]
- Em que pensas, Menina? – disse ele se aproximando dela e resgatando do chão sua boneca de pano.(Talvez o último dos únicos brinquedos.) [ ... ]
- Não penso exatamente em alguma coisa que eu pudesse lhe dizer e fazer com que você compreendesse.- disse ela quase que murmurando.
[ ... ] Gosto de pensar à toa, sem muito compromisso com o ‘raciocinar’.
Acabo gastando as horas do relógio em intensas e interessantes viagens pelos jardins do meu prazer.
Não somente vou ao encontro, como também trago para mim o que naturalmente parece distante, quase impossível de tocar.
E, é assim que eu alcanço a boneca que tanto a menina desejou; solto a linha e vôo alto com a pipa rabiscando o azul do céu com gotas de gargalhadas de prazer...
Monto em cavalos selvagens, negros e brancos, altos, fortes, destemidos e adentro os muros dos castelos de areia...
Antes que as estrelas aconteçam e que o sol se despeça, chego à beira dos rios e os observo preguiçosos, tropeçando nas pedras, se derramando no leito e, ansiosos, provando o sal que os transforma.[ ... ]"
(Trecho do Conto: A Menina Da Janela de Vidro. – Valéria Cristina)
Beijos!!!
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