A tarde que expira, A flor que suspira, O canto da lira, Da lua o clarão; Dos mares na raia A luz que desmaia, E as ondas na praia Lambendo-lhe o chão; Da noite a harmonia Melhor que a do dia, E a viva ardentia Das águas do mar; A virgem incauta, As vozes da flauta, E o canto do nauta Chorando o seu lar; Os trêmulos lumes, Da fonte os queixumes, E os meigos perfumes Que solta o vergel; As noites brilhantes, E os coces instantes Dos noivos amantes Na lua de mel; Do templo nas naves As notas suaves, E o trino das aves Saudando o arrebol; As tardes estivas, E as rosas lascivas Erguendo-se altivas Aos raios do sol; A gota de orvalho Tremendo no galho Do velho carvalho, Nas folhas do ingá O bater do seio, Dos bosques no meio O doce gorjeio Dalgum sabiá; | A órfã que chora, A flor que se cora Aos raios da aurora, No albor da manhã; Os sonhos eternos, Os gozos mais ternos, Os beijos maternos E as vozes de irmã; O sino da torre Carpinho quem morre, E o rio que corre Banhando o chorão; O triste que vela Cantando à donzela A trova singela Do seu coração; A luz da alvorada, E a nuvem dourada Qual berço de fada Num céu todo azul; No lago e nos brejos Os férvidos beijos E os loucos bafejos Das brisas do sul; Toda essa ternura Que a rica natura Soletra e murmura Nos hálitos seus, Da terra os encantos, Das noites os prantos, São hinos, são cantos Que sobem a Deus! Os trêmulos lumes, Da veiga os perfumes, Da fonte os queixumes, Dos prados a flor, Do mar a ardentia, Da noite a harmonia, Tudo isso é - poesia! Tudo isso é - amor (casimiro de abreu) |