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Desde de que tu foste...
Desde que tu foste, experimento a amargura
infinita de haver-te calado tantas coisas:
de haver calado, mártir, esta branda ternura
que ocultei como é possível ocultar as rosas,
e de te haver dito as palavras fragrantes
que eu trazia na boca cuidadas e submissas;
que esperei tantas vezes deixar sair vibrantes
mas sempre se gelaram num perverso sorriso.
Agora que te foste sofro o pesar intenso
de haver calado, mártir de mim mesmo, o imenso
tesouro de doçura que floresceu em amor.
Mas sei que se voltasses um dia à minha vida,
ao procurar em vão minhas palavras perdidas...
selaria os meus lábios o secreto amargor.
Pablo Neruda
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