Quisera eu não ter ouvido,
Mas ouvir...
Tanto fez que ontem ouvi o som
Do pintor pintando uma lágrima caindo.
Se quer saber, doeu.
Doeu muito!
Eu cri num amor incondicional;
Numa ida sem volta;
Cri que as vulcânicas noites de verão
As fizessem me descobri.
Hoje sou eu quem descobre
Que fui um sarcófago de granito,
Onde depositaste seus restos nefastos
E sua trêmula carne desfalecia-se
E acordava ainda mais longe de mim.
Hoje amanheci sozinha;
Sem vestígios de ontem
E o mais estranho, me sinto bem.
Tanto fez, que ininterruptamente
Eu ouço aquele som.
MARIA CAROLINA AMARAL.