Melancolia Outonal

Quem afinal sou eu?
Pra que as tardes outonais me possam afligir
Pra que as folhas secas ao vento seco me induzam a angustia
Pra que as musicas me possam derramar a alma
Em poças pelas ruas em minhas veias
Em ruas pelas cidades perdidas
Em nuvens pelas falésias
Em dunas pelos desertos
Quem sou eu afinal pra que tudo de mim fique tão perto
E porque em mim tudo se torna em vicio?
O estrangulamento na garganta entre maio e agosto
O estranhamento na retina entre um dia e outro
Esse vazio cheio de pedras
Esse homem invisível
Esse sonho possivelmente impossível
Porque tudo em mim se torna vicio?
O ócio o cansaço a luz
O beijo, o enlaço, o abraço e depois a dor que a falta disso me faz
Quem sou eu afinal?
Pra me despir assim tão completamente e depois
Reconhecer minha nudez e sentir tanto frio?
Minha fraca sina de ser mulher
E ser assim circular
E inclinada a mergulhar no labirinto falso que é meu instinto
Onde me sinto perdendo as cores junto com o outono
E duvidando de mim mesma como se eu fosse culpada
Como se fosse refém de mim mesma
E aprisionasse a luz que o outono enfraquece
E libertasse as garras frias do inverno
Como se eu fosse cúmplice de todas as misérias humanas
E como se pudesse mover o destino
E morder o vidro das janelas
E a rua indefesa
E engolir o horizonte feito um pássaro
Pra depois alimentar meus próprios sonhos
e saciar-lhes a sede de infinito.
Quem afinal sou eu?
Pra sentir o outono tão estrito...

Claudia Morett