Se eu ficar muito abstrata
Chame-me a olhar o fogo
Que sempre me fascinou
Lembra-me daquela mágica
Que um dia alguém me ensinou.
Se eu ficar vazia
Enche-me de poesia
Dessas que voam através
Do tempo sempre tocando
As fibras da alma
Se eu perder a calma
Assopre-me os olhos
Com o pó dos anos passados
Pra não sentir tão pesado o silencio
Prometo me lembrar
Do anjo esquecido nas avenidas
Nos moinhos antigos
Nos aviões que aterrissam
Prometo!
Se eu olhar no espelho
E não reconhecer meu rosto
Mostra-me uma velha fotografia
Fala-me do que eu te diria
Do que trago em mim oculto
Nas linhas do meu destino
Fala-me do meu caminho
Da estória, da minha vida.
Daquela piada esquecida
Do meu riso, do meu olhar ausente
Fala do meu presente
Traga-me de volta,
A velha e louca semente.
Eu não quero nunca ceder
Mas se eu ceder
Lembre-me das coisas que esqueci dentro
Que enfrentei até que se fosse de mim
Lembre-me da liberdade que há em mim
Do sonho da menina dentro
Da mulher em brasa
Da desordem na minha casa,
Do rufar das minhas loucas asas
Se eu sentar e cruzar os braços
Lembra-me dos meus próprios passos
Seguindo sempre sem rumo
Lembra-me da polpa e do sumo
Do fruto que me agrada
Do amor que me leva avante
Lembra-me do velho abraço
Se eu me sentar e disser não posso
Chame-me pra dançar
Faça tocar a canção que gosto
E me faça ver que ainda posso.
Só não me abandone dentro de mim
Se eu não me sentir mais minha morada
Se eu me sentir desolada
Leva-me ao encontro dos sonhos antigos
E leia-me aquele velho livro
Mas não me deixa esquecer que ainda vivo.

Claudia Morett