O céu de todos os invernos
O céu de todos os invernos
Cobre em meu ser todo o verão...
Vai p"ras profundas dos infernos
E deixa em paz meu coração!
Por ti meu pensamento é triste,
Meu sentimento anda estrangeiro;
A tua idéia em mim insiste
Como uma falta de dinheiro.
Não posso dominar meu sonho.
Não te posso obrigar a amar.
Que hei de fazer? Fico tristonho.
Mas a tristeza há de acabar.
Bem sei, bem sei...
A dor de corno
Mas não fui eu que lho chamei.
Amar-te causa-me transtorno,
Lá que transtorno é que não sei...
Ridículo? É claro. E todos?
Mas a consciência de o ser,
fi-la bas-tante clara deitando-a a rodos
Em cinco quadras de oito sílabas.
Fernando Pessoa
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