Eu queria ser uma pequena bailarina daquelas
de passos curtos ou largos, porém precisos.
Queria poder equilibrar-me na ponta dos pés e com
um sorriso encontrar a força para dançar entre os passos mais firmes e frágeis
das notas – e nesses passos, dançar com encantamento.
Mas ao mesmo tempo, eu queria ser uma bailarina
para embalar as minhas tristezas e solidões numa caixinha de música, e só sair
de lá quando o corpo quisesse dançar…
Eu já tive uma pequena bailarina – dessas
que ficam guardadas em caixinhas de música – porém ela não tinha público, nem
se apresentava em grandes espetáculos. Era solitária, e, contudo feliz. Seus passos
eram curtos e seus olhinhos estavam sempre fechados… Talvez, quem sabe, ela
estivesse viajando no seu imaginário de sonhos e apresentações, vivendo o seu
mundo de passos e encantamento.
Ela dançava sem público, mas não estava só, éramos
nós: eu pequenina e ela bailarina.
Mesmo guardada entre as canções daquela caixinha
de música, quando as lágrimas escorriam.
Eu sempre quis ser bailarina de caixinha de
música.
Ficava a imaginar sorrisos e aplausos no final do
espetáculo.
Ou então, os olhos sorridentes de alguém que dava
corda naquele instrumento para que a dança fosse perfeita.
Trocava passos e bailava enfeitando aqueles rostos
solitários com sorrisos musicais..
O sonho da pequena bailarina, da grande menina.
Hoje, não tenho caixinha de música, nem bailarina.
Pausadamente, bailo as minhas tristezas ou
saudades em palavras escritas que se escondem nas entrelinhas do poema.
Não sou bailarina e nem sei dançar, mas quando as
lágrimas escorrem pelo meu rosto, eu penso naquela menininha de passos curtos, deslizando em seu palco solitário chamado caixinha
de música…
Talvez eu esteja fazendo tristes descrições de
caixas de música, ou bailarinas… Mas hoje eu queria ser bailarina, mesmo
sem público.
Gostaria apenas de está numa caixinha onde o palco
e plateia escondem-se sob os olhos de uma criança que aprecia o bailar daqueles
pequenos e alegres passos.
E no final da dança ser presenteada com o mais
doce sorriso…
Abram a caixinha de música, a bailarina quer
dançar…