O blog http://projetoeusougay.wordpress.com/
pede aos internautas que enviem autorretratos em que estejam segurando
uma placa ou papel com a frase "Eu sou gay". Em menos de um dia, o
projeto recebeu cerca de 600 fotos. Algumas eram de pessoas conhecidas,
como a ex-vereadora Soninha Francine e a VJ Marimoon, da MTV.
A ideia partiu de dois amigos, a pernambucana Carolina Almeida, de 32
anos, e o paulistano Daniel Ribeiro, de 28. "Estávamos incomodados com o
sentimento de violência que pairava no ar", diz Ribeiro, cineasta autor
de dois curtas que tratam de questões homofóbicas. Um deles, Café com Leite,
foi o vencedor do Urso de Cristal no Festival de Berlim, em 2008. "Não
dá para imaginar que hoje alguém seja agredido por desconfiarem que se
trata de um gay."
Carolina compartilha o sentimento. E foi dela a iniciativa de montar o
blog. A ideia, em uma segunda fase, é transformar as fotos enviadas em
um vídeo. "Vamos intercalar as fotos caseiras com outras mais
profissionais. Também haverá uma trilha especialmente feita para a
campanha", conta Ribeiro.
"Eu Sou Gay", segundo os autores, quer ir além da homofobia. "É um
projeto contra o ódio", diz o cineasta, que é gay, mas nunca foi
discriminado - muito menos agredido. Ribeiro ficou impressionado com as
imagens de violência que viu na TV.
"Antes, as pessoas contavam que ouviam falar de casos. Agora, com
essas câmeras de circuito interno, uma espécie de Big Brother da cidade,
pudemos assistir a uma cena explícita de homofobia. É chocante." Até
então, o cineasta pensava que as pessoas estivessem mais acostumados com
as diferenças. "Eles (os agressores) se revelaram diante das câmeras de
um jeito muito surpreendente."
Para Carolina, a gota d"água foi a descoberta, na semana passada, do
corpo de uma adolescente lésbica em Goiás, desaparecida desde março e
que teria sido morta pela família da namorada, que não aceitava o
relacionamento. "Pensei que não era possível tanto ódio, por isso
resolvi tomar uma atitude." Heterossexuais também são muito bem-vindos à
campanha. "Ser gay deixou de ser uma questão de orientação sexual.
Hoje, significa ter os direitos negados. É alguém interrompido em sua
liberdade."
Pela compaixão. Alguns internautas criticaram o nome
da campanha. "Achei que os gay são minoria representativa", diz
Carolina. "Poderia escolher "Eu Sou Negra", por exemplo. Isso não
importa. O que importa é a essência. Trata-se de uma campanha pela
compaixão."
Na rua
Estudo baseado em dados do Centro de Combate à Homofobia (CCH) mostra que 72% dos ataques a gays acontecem em espaços públicos.
CRONOLOGIA
Agressões na área da Paulista
14/11/2010
Violência
Um
grupo formado por quatro adolescentes e um jovem de 19 anos agrediu
gratuitamente com chutes, pauladas e lâmpadas fluorescentes três rapazes
que caminhavam na Paulista. Câmeras de um prédio gravaram as cenas de
violência.
4/12/2010
Socos e pontapés
Um casal homossexual que andava de mãos dadas próximo ao Metrô Brigadeiro foi agredido por cinco homens.
23/3/2011
Intolerância
Um estudante que fazia parte de um grupo
de ativistas contra a homofobia foi agredido na Avenida Paulista.
Câmeras de posto gravaram a confusão.
Matéria http://www.estadao.com.br